RESUMO
Este artigo apresenta uma análise de fatores que são desafios para os
Sistemas de Logística Reversa que estão sendo implantados no Brasil, em
relação aos aspectos: políticos e legais; operacionais; e sociais relacionados
à mão de obra e à participação da população. Os resultados indicam a
existência de uma série de pontos críticos que necessitam ser discutidos
e resolvidos para que os objetivos e as metas estabelecidas pelos acordos
setoriais, que estão sendo firmados entre o Governo Federal e os setores
produtivos, sejam factíveis de serem cumpridos. Para este estudo, foram
realizados levantamentos e análises de dados secundários, obtidos a partir
de relatórios técnicos de órgãos governamentais e relatórios técnicos
e informações disponibilizadas por associações das empresas que já
realizam a logística reversa de forma obrigatória, antes da lei n° 12.305/2010.
Palavras-chave: logística reversa; produtos pós-consumo; resíduos
sólidos; desafios.
1
Professora das Faculdades Integradas São Pedro (FAESA) – Vitória (ES), Brasil.
2
Professora Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil.
Endereço para correspondência: Maria Claudia Lima Couto – Rua Dionísio Rosendo, 125/1.102 – Centro – 29010-100 – Vitória (ES), Brasil – E-mail: mariaclaudial@gmail.com.br
Recebido: 15/05/15 – Aceito: 11/11/16 – Reg. ABES: 149403
Artigo Técnico
Análise dos sistemas de logística reversa no Brasil
Analysis of reverse logistics systems in Brazil
Maria Claudia Lima Couto1
, Liséte Celina Lange2
ABSTRACT
This paper presents an analysis of factors that are challenges for Reverse
Logistics Systems being established in Brazil, concerning political, legal,
operational and social aspects related to labor and population involvement.
The results indicate the existence of a number of critical points that need
to be discussed and resolved so that the objectives and targets set by
sectoral agreements being signed between the Federal Government and
productive sectors are feasible to be met. For this study, surveys were
conducted as well as analysis of secondary data from technical reports of
governmental agencies and technical reports and information provided
by associations of undertakings which have already been carrying out
reverse logistics on a mandatory basis, prior to the law n° 12.305/2010.
Keywords: reverse logistics; post-consumer products; solid waste.
INTRODUÇÃO
A responsabilidade estendida de fabricantes e importadores em relação
aos produtos após sua vida útil e embalagens está tornando-se
cada vez mais comum em todo o mundo, e o rigor das legislações
ambientais tem impulsionado as ações de concretização dos Sistemas
de Logística Reversa (SLR).
Nos estudos realizados por Gonçalves-Dias, Labegalini e Csillag
(2012), foi verificado, a partir de uma revisão abrangente sobre gestão
da sustentabilidade na cadeia de suprimentos, que a mais antiga referência
na literatura internacional sobre Logística Reversa (LR) data
do início dos anos 1970.
A literatura revisada mostra que o conceito de LR ganhou força
a partir da década de 1980, mas apenas a partir dos anos 1990 passou
a ser discutida com mais intensidade, quando passou a ser implementada.
Entretanto, apenas em 1995 surgem os primeiros trabalhos
que focavam a relação entre LR e questões socioambientais (RUBIO;
CHAMORRO; MIRANDA, 2008).
Os estudos realizados sobre SLR fornecem, em sua grande maioria,
soluções práticas para as empresas no enfrentamento dos desafios da
implementação de fluxos reversos e destacam os ganhos econômicos
e ambientais advindos dessa prática.
Pesquisadores têm investigado os fluxos em termos de transporte
(WANG & CHEN, 2013; ZSIGRAIOVA; SEMIAO; BEIJOCO,
2013), sistema de gerenciamento (SCHULTMANN; ZUMKELLER;
RENTZ, 2006; SILVA et al., 2013; TRAPPEY et al., 2010), sistema de
gestão (AITKEN & HARRISON, 2013; BARROSO & MACHADO,
2005; GIANNETTI; BONILLA; ALMEIDA, 2013) e desenvolvimento
de redes de LR (ALUMUR et al., 2012; FLEISCHMANN et al., 2001;
KIZILBOGA et al., 2013; RAMEZANIA, BASHIRI; TAVAKKOLIMOGHADDAM,
2013; SOLEIMANI; SEYYED-ESFAHANI; SHIRAZI,
2013). Entretanto, poucas pesquisas têm sido realizadas sobre estruturas
de governança das cadeias de suprimentos, necessárias para gerir
os novos SLR para a reutilização, reciclagem e reparação de produtos
(AITKEN & HARRISON, 2013).
DOI: 10.1590/S1413-41522017149403
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Couto, M.C.L. & Lange, L.C.
Kizilboga et al. (2013) apontam que os processos de LR também
podem gerar impactos negativos, tanto econômicos como ambientais,
pois requerem o consumo de energia, mesmo que reduzam o uso de
matérias-primas.
As motivações para a realização da LR por parte das empresas estão,
em geral, fundamentadas em três eixos: ambiental, financeiro e legal.
A motivação ambiental surge principalmente quando se observa
uma vantagem competitiva por meio da criação de uma imagem verde
para os produtos e serviços oferecidos no mercado (SROUFE et al.,
2000; KLASSEN, 2000).
Nesse sentido, alguns produtores mantêm a linha verde no seu processo
a fim de satisfazer a expectativa dos clientes, os quais, por sua vez,
esperam cada vez mais que as empresas reduzam o impacto ambiental
de suas atividades e produtos. Portanto, a imagem “verde” tornou-se
um importante elemento de marketing (FLEISCHMANN et al., 2001).
O fator econômico da LR refere-se aos lucros de ações de recuperação
de produtos, ou parte deles, que proporcionam a redução de custos,
o decréscimo no uso de materiais e a economia de valiosas peças
de reposição. Há uma motivação financeira para atividades de reutilização,
quando, por exemplo, um equipamento chega a uma empresa
no final de sua vida útil e suas peças podem ser usadas como peças
sobressalentes ou vendidas em mercado secundário a um percentual
do custo do uso de produtos originais na sua reparação (GARCÍARODRÍGUEZ;
CASTILLA-GUTIÉRREZ; BUSTOS-FLORES, 2013).
A legislação existente também tem impulsionado o desenvolvimento
de SLR, tanto na Europa como no Brasil, levando os setores produtivos
a rever os ciclos de vida de seus produtos e a estruturar seus SLR.
Esse tipo de motivação, em geral, pode levar à operacionalização cooperada
entre diferentes elos da cadeia produtiva.
A LR é, portanto, importante como estratégia de negócios sustentáveis
e lucrativos.
No entanto, existem diversos fatores críticos, internos e
externos, que afetam as atividades inerentes à LR. Os principais resultados
dos estudos analisados por Gonçalves-Dias, Labegalini e Csillag (2012)
demonstram dificuldades na estruturação da LR, principalmente no que
diz respeito à interação entre os atores na cadeia, às normas de regulação
da cadeia reversa e às estratégias de inovação tecnológica e gerencial.
Estudos de Barroso e Machado (2005) apontam para algumas
questões relevantes nos SLR em Portugal, onde já se têm SLR implementados;
e resultados dos estudos de Abdulrahmana, Gunasekaran e
Subramanian (2014), realizados na China, indicam gargalos e poucas
iniciativas sobre o assunto, demonstrando diferentes aspectos críticos
em decorrência do estágio de amadurecimento dos SLR nos dois países.
MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia adotada neste estudo foi a pesquisa documental,
cujos dados foram obtidos a partir de: relatórios técnicos de órgãos
governamentais sobre os SLR já implantados e em operação no Brasil;
Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) elaborados para
subsidiar a implantação de novos SLR; editais de chamamento do
Governo Federal para a construção de acordos setoriais com o setor
produtivo; acordos setoriais já firmados.
Os dados também foram obtidos por meio de relatórios técnicos
e informações disponibilizadas pelas associações das empresas
de pneus inservíveis, embalagens de agrotóxicos, Óleos Lubrificantes
Usados e Contaminados (OLUC) e pilhas, que realizam a LR de forma
obrigatória por força de resoluções do Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA).
A partir da análise desses dados, foi realizada a sistematização das
informações, visando categorizar os principais indicadores de desempenho
dos sistemas em implantação e em operação, apurando os aspectos
críticos, as lacunas e os desafios desses sistemas.
RESULTADOS
Ao se analisar os EVTE já elaborados para SLR no Brasil, foi possível
categorizar uma variedade de desafios que os setores produtivos estão
enfrentando ou estimam enfrentar no decorrer da sua implementação.
Esses desafios foram distribuídos em três categorias, relacionadas
aos aspectos políticos, legais, operacionais e sociais. As questões
levantadas nessas categorias devem ser consideradas na proposição
e operacionalização dos SLR, pois podem interferir no alcance das
metas estabelecidas pelos instrumentos reguladores desses sistemas.
Aspectos políticos e legais
No Brasil, os serviços de saneamento básico incluem o manejo de
resíduos sólidos urbanos (RSU) e a limpeza urbana, além do abastecimento
de água, da coleta e tratamento de esgoto e da drenagem
urbana. Esses temas possuem caráter interdisciplinar e requerem gestão
intersetorial, pois apresentam estreita ligação com o desenvolvimento,
a educação, a saúde, o meio ambiente, os recursos hídricos, a produção
de bens e o consumo.
As três principais legislações que reúnem as regras quanto ao gerenciamento
de RSU no Brasil estão resumidas no Quadro 1.
Essas leis federais e seus respectivos decretos regulamentadores
estabelecem entre si uma relação de convergência e, ao mesmo tempo,
de complementaridade. Os SLR, apesar de serem regulamentados pela
lei n° 12.305/2010, necessitam apoiar-se nas outras duas, principalmente
quando se trata da interface dos Sistemas Municipais de Coleta
Seletiva (SMCS) com os SLR para embalagens em geral.
Portanto, até 2010, a gestão dos produtos pós-consumo e embalagens
não contava com nenhum instrumento legal, no âmbito nacional,
que disciplinasse e uniformizasse as obrigatoriedades e os procedimentos
a serem adotados.
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Logística reversa no Brasil
Os SLR em funcionamento antes mesmo da n° 12.305/2010, por força
de resoluções do CONAMA, são: embalagens de agrotóxicos (resolução nº
334/2003); pneus inservíveis (resolução nº 416/2009); OLUC (resolução
nº 362/2005); pilhas e baterias (resoluções nº 401/2008 e nº 424/2010).
O art. 33 da lei n° 12.305/2010, regulamentada pelo decreto
n° 7.404/2010, obriga a estruturar e a implementar SLR, por meio
de retorno dos produtos após o uso do consumidor, de forma independente
do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos
RSU, todos aqueles caracterizados como fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens;
pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e
embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio
e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes
(BRASIL, 2010a; 2010b).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece ainda que
os SLR devem ser estendidos aos produtos comercializados em embalagens
plásticas, metálicas ou de vidro e aos demais produtos e embalagens,
considerando, prioritariamente, o grau e a extensão do impacto à saúde
pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados (BRASIL, 2010a; 2010b).
Nesse sentido, as embalagens em geral e os medicamentos inservíveis
também estão sendo tratados pelo Governo Federal como prioritários
para a implantação dos SLR, por meio de acordos setoriais.
Os novos conceitos contidos nessa lei trazem à tona uma questão
muito importante: a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
do produto, com atribuições individualizadas e encadeadas entre todos
os elos do sistema produtivo, bem como com responsabilidades para
o consumidor e o poder público. Outro aspecto que merece destaque
na política de RSU é o modelo de regulamentação dos SLR por meio
de Acordos Setoriais, Termos de Compromisso ou Regulamentos.
A Figura 1 apresenta os possíveis fluxos de informação, recursos
financeiros e resíduos nos SLR, considerando as novas determinações
da lei n° 12.305/2010.
Lei Decreto Objetivos
12.305/2010 7.404/2010
Estabelece a Política Nacional de
Resíduos Sólidos e define regras
específicas para o seu gerenciamento,
que, por sua vez, está atrelado à
execução dos serviços de limpeza
urbana, sob a responsabilidade do
gerador e do poder público. Trazem
regras detalhadas sobre SLR.
11.445/2007 7.217/2010
Legitimou a integração dos serviços de
abastecimento de água e esgotamento
sanitário com os de drenagem de águas
pluviais, bem como os serviços de
limpeza urbana e de manejo de RSU,
proporcionando um aspecto intersetorial
ao planejamento do saneamento básico.
11.107/2005 6.017/2005
Dispõe sobre a gestão associada,
com ênfase nos consórcios públicos,
garantindo segurança jurídica, com
vistas a alcançar ganho de escala com
a redução de custos para a gestão dos
seus serviços públicos, dentro dessas
possibilidades, os RSU.
Quadro 1 – Leis federais que disciplinam a gestão de resíduos
sólidos no Brasil.
SLR: sistemas de logística reversa; RSU: resíduos sólidos urbanos.
Figura 1 – Inter-relação entre os atores que compõem os sistemas de logística reversa.
Setor empresarial
Produtores/
Importadores
Gestão
Distribuidores/
Revendedores/
Comerciantes
Operação
direta/mista Empresa
terceirizada
Operação
Entidade
Gestora Acordos setoriais
Termos de compromisso
Regulamentos
Poder público
União
Estado
Municípios
Sociedade
Consumidor/
Gerador
Sistema de
limpeza pública
Cooperativas/
Associações de catadores
Fluxo de recursos financeiros Fluxo de informação Fluxo de resíduos
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Couto, M.C.L. & Lange, L.C.
Os desafios apresentados pelos setores produtivos nos EVTE analisados,
em relação aos aspectos políticos e legais, são apresentados no Quadro 2.
Aspectos operacionais
Estudos realizados por Richey et al. (2005) e Autry (2005) indicam
que existe elevado grau de inovação em SLR, em termos de criação
de sistemas e procedimentos, bem como na busca de soluções para
lidar com produtos e materiais devolvidos.
A diversidade de produtos
e materiais requer alto grau de coordenação na gestão, exigindo também
a participação de diversas empresas de tratamento e disposição
final de resíduos (SHEU, 2007).
A Figura 2 apresenta possíveis interações existentes entres os aspectos
de gestão dos SLR.
As interações entre os aspectos de gestão dos SLR, na maioria
dos casos no Brasil, referem-se à implantação de SLR por motivação
externa, em atendimento à lei n° 12.305/2010, de forma associativa,
reunindo diferentes elos das cadeias produtivas. A gestão
segue uma governança, com a presença do setor empresarial, reunido
em torno de uma entidade gestora, e com o setor público,
atuante na regulamentação e na fiscalização.
O gerenciamento
tem se mostrado compartilhado principalmente entre fabricantes
e importadores, com uma relação com o mercado tanto monopolista
como competitivo.
A Figura 3 apresenta o detalhamento do fluxo das relações
entre as etapas dos SLR, tendo o consumidor como primeiro
agente, em que este assume o papel de gerador e necessita segregar
e acondicionar os materiais para posteriormente disponibilizá-los
para a coleta.
Os desafios apresentados pelos setores produtivos nos EVTE
analisados, em relação aos aspectos operacionais, são apresentados
no Quadro 3.
Categorias Desafios
Legislação e
normatização
• Necessidade de revisão da legislação em relação às
questões de gerenciamento dos resíduos perigosos
que estão no SLR.
• Necessidade ou não de termo de doação no caso
da transferência de resíduos eletroeletrônicos.
• Custeio de produtos órfãos.
• Complementação de marco regulatório com o
objetivo de não favorecer o desenvolvimento de
negócios sem o atendimento aos requisitos legais e
técnicos relacionados aos SLR.
• Estabelecimento de metas para a utilização de
matéria-prima secundária.
Aspectos
tributários
• Definição de critérios para a isenção de tributação
da atividade de LR.
• Promoção do mercado da reciclagem por meio
de incentivos fiscais ao uso de material reciclado, à
venda de produtos com conteúdo reciclável ou com
design ecológico.
Instrumentos
financeiros
• Linhas de crédito para investimentos na
infraestrutura das recicladoras regionais.
• Criar incentivos no mercado para vários atores
envolvidos nos SLR.
Controle
governamental
• Promover a articulação entre fabricantes, importadores,
comércio, recicladores e poder público para o
alinhamento dos objetivos do SLR, com a criação de
instrumentos de controle que garantam a vinculação
de todos aos seus respectivos SLR.
• Regulamentação dos acordos setoriais,
possibilitando a fiscalização dos
procedimentos estabelecidos.
Quadro 2 – Aspectos políticos e legais dos desafios para a implantação
de sistemas de logística reversa no Brasil.
SLR: sistemas de logística reversa; LR: logística reversa.
Fonte: elaborado com base em ABDI (2012; 2013), Grant Thornton (2011), IBAM (2012)
e SINDICOM (2012).
Figura 2 – Fluxo da interação dos aspectos de gestão dos sistemas de logística reversa.
Associativa
Motivação
Internas
Financeira/Ambiental
Individual
Empresas
individuais
Grupo de empresas/
Entidade gestora
Fabricante/
Terceirizado
Compartilhada
Monopolista Competitivo
Governo
Externas
Atendimento à legislação/
Demanda dos clientes
Governança tripartite:
Setor empresarial/Setor público
Entidade Gestora
Tipo
Gestão
Gerenciamento
Relação com
o mercado
E
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Portanto, há grande potencial de conexão entre os serviços públicos
de manejo de RSU, por meio dos SMCS, e os SLR. A definição
desse ponto de conexão e da forma de participação do setor empresarial
nos SMCS ou do município nos SLR é de primordial importância
para a sustentabilidade dos dois sistemas. A Tabela 2 apresenta a
estimativa de alcance dos SLR de embalagens em geral, apresentada
pelos EVTE (IBAM, 2012).
A Figura 4 apresenta as estimativas de receita e despesa dos SLR
para embalagens em geral por faixa populacional.
Deve-se considerar, ainda, que com a implantação dos SLR, principalmente
das embalagens em geral, ocorrerá a redução das despesas
com os serviços de coleta, transporte e destinação dos RSU, que são
custeados pelos municípios.
Segundo dados do Sistema Nacional sobre Saneamento (SNIS),
em 2013, as despesas com o manejo de RSU representaram, em média,
5% dos gastos correntes das prefeituras brasileiras (BRASIL, 2013).
Quanto ao mercado de recicláveis, os municípios com serviço de
coleta seletiva separaram, prioritariamente, papel e/ou papelão, plástico,
vidro e metal (materiais ferrosos e não ferrosos), sendo os mesmos
assim negociados: comerciantes de recicláveis, como principais
receptores finais desses materiais, com 53,9%; indústrias recicladoras,
com 19,4%; entidades beneficentes, com 12,1%; e outras entidades,
com 18,3% (IBGE, 2012).
Aspectos sociais
Os desafios apresentados pelos setores produtivos nos EVTE
analisados, em relação aos aspectos sociais, são apresentados no
Produtos
pós-consumo Pneus(a)
Embalagens
de
agrotóxicos
Pilhas OLUC(b)
Nº de PEVs
implantados 817 410 1.288 138.824
População/PEV(c) 247.146 492.484 156.769 –
Quantidade de
municípios com PEV 802 240 199 4.328
Percentual de
município com
PEV (%)
14,4 4,3 3,6 77,7%
Meta de coleta 479.430
t.ano-1
42.983
t.ano-1 nd 38,5%
Quantidades
coletadas
459.030
t.ano-1
40.404
t.ano-1 nd 445.811.873
L.ano-1
Eficiência (%) 95,7 94,0 nd 39,50%
Tabela 1 – Informações sobre os sistemas de logística reversa em
operação no Brasil.
OLUC: óleos lubrificantes usados e contaminados; PEV: ponto de entrega voluntária;
nd: informação não disponível.
Fonte: Reciclanip (2014), IBAMA (2013), InpEV (2013), Abinee (2014), Brasil (2015).
a
a resolução CONAMA nº 416/2009 estabelece que, para cada pneu novo
comercializado no mercado de reposição, as empresas fabricantes ou importadoras
deverão dar destinação adequada a um pneu inservível (relação 1:1); b
a portaria
MMA/MME n° 464/2007 estabeleceu o percentual mínimo nacional de coleta
de óleos lubrificantes usados ou contaminados, sendo, para o ano de 2010, de
35,0% do volume de óleo lubrificante acabado comercializado no país; c
cálculo
realizado considerando estimativa da população residente no Brasil (jun/2013 —
201.918.586 habitantes).
Faixa populacional(a) Faixa 1 Faixa 2 Faixas
3 a 6
Total Brasil
(2010)
População (hab) <30.000 30.000100.000 –
População de
cálculo (hab) 30.000 100.000 250.000 160.879.708
Nº de municípios 4.562 750 253 5.565
Total de resíduos
recicláveis
(t/ano)(b)
606 2.021 5.053 3.251.675
Despesas estimadas
Investimento
inicial (mil R$) 11.273,75 1.891,92 3.361,67 3.043.844,08
Operação
do sistema
(mil R$/ano)
711,91 1.720,18 3.314,31 2.760.695,78
Custo unitário
(R$/t) 1.174,08 851,08 655,92 849,01
Receita estimada
Material vendido
(t/ano)(c) 546 1.819 4.548 2.926.507
Receita com
a venda dos
materiais
(mil R$/ano)
285,40 951,30 2.378,26 1.530.453,30
Receita média
(R$/t) 522,98 522,96 522,96 522,96
Receita/Despesa
(%) 40,09 55,30 71,76 55,44
Catadores
Receita do
catador (d) 1.011,42 1.221,46 1.407,04 –
Nº de catadores
na triagem(e) 10 32 81 45.162
Nº de catadores
para o todo
SMCS(f)
30 79 163 128.217
Deserter considerada,
também, a criação de canais de acesso à informação sobre o
sistema, além de facilidades de acesso às instalações físicas de recebimento
dos produtos.
CONCLUSÕES
Este estudo aponta uma série de desafios para o desenvolvimento
e a operacionalização dos SLR que necessitam ser analisados com
cautela, pois são indicativos de possíveis gargalos para os futuros
sistemas a serem implantados no Brasil. Questões como adequação
de legislação e normatização, aspectos tributários, instrumentos
financeiros e licenciamento ambiental exigem a atuação direta do
Governo Federal. Necessita-se também de controle governamental,
tanto como elemento articulador entre os elos das cadeias produtivas
quanto como mecanismo regulamentador e fiscalizador do cumprimento
dos acordos setoriais.
Avaliando-se os SLR em operação, conclui-se também que seus indicadores
de desempenho devem medir não apenas as taxas de retorno
dos materiais, mas também sua cobertura e abrangência, visto que altos
índices são atingidos mesmo sem o atendimento de grande percentual
de municípios de médio e pequeno portes.
No que diz respeito aos desafios operacionais, a definição do
modelo operacional e a relação entre os agentes responsáveis pela
gestão compartilhada são fatores decisivos.
No caso das embalagens
em geral, sua forte relação com os SMCS e com a catação
informal que ocorre no Brasil deve ser cuidadosamente estudada
pelos setores empresarial e público de modo a evitar a sobreposição
de ações.
Questões como normatização de procedimentos, principalmente
para licenciamento ambiental, transporte dos produtos e consolidação
de dados sobre infraestrutura logística, também são apontadas como
desafios para os SLR.
Por fim, é importante observar que a legislação brasileira define
que a responsabilidade pelo gerenciamento dos RSU é compartilhada
entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes,
setor público e consumidor, enquanto nos países da zona do
Euro a responsabilidade do fabricante é estendida, alargada, integral.
Esse diferencial, que na Europa coloca o consumidor como
coadjuvante importante, faz com que no Brasil ele tenha que ser
tratado como protagonista.
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas
Gerais (FAPEMIG), pelo apoio à pesquisa por meio de bolsas e
outros auxílios.
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Logística reversa no Brasil
ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. (2012)
Logística reversa de equipamentos eletroeletrônicos: análise de
viabilidade técnica e econômica. Brasília: ABDI.
ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.
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Brasília:
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