ANÁLISE DO SUCESSO DO ATLETA DE FUTEBOL NO PERÍODO PÓS-CARREIRA
Ana Cristina Silvério1, Juliana Canil Apolinário2, Maria Juliene Gomes da Silva3; Ana Cabanasn
1Anhanguera Educacional/Administração, Av. João Batista de Souza Soares, 4121, Colônia Paraíso, São José dos Campos-SP, 12236-660,
Resumo- O futebol, nacional e mundialmente, tem status nos âmbitos socioeconômicos, político, cultural e mercadológico. Ao atingir esta projeção profissional, os jogadores nem sempre se prepararam para gerir a vida no período pós-carreira. Muitos jogadores, que no auge da carreira adquiriram automóveis esportivos importados e mansões, quando a fama e o potencial profissional decaem, acabam por enfrentar problemas financeiros. Frente a esta problemática, definiu-se como o objetivo, neste estudo bibliográfico e exploratório, suscitar a qualidade de usufruir de um plano de carreira direcionado aos atletas profissionais de futebol, assegurando uma aposentadoria permanente. As literaturas indicam que deslumbrados com o brilhantismo do mundo futebolístico de bilhões de reais, muitos jogadores não concluem o ensino fundamental, o que pode prejudicar a ascensão no período pós-carreira e, consequentemente, correm riscos de não se estabelecerem após o declínio da fama. Conclui-se que estes profissionais podem conduzir o plano de carreira de várias maneiras, em especial: formar uma visão realista, clara e apurada de qualidade, interesse e inclinação pessoal para estabelecimento de metas da carreira e preferências profissionais.
Palavras-chave: Futebol. Atleta. Processo de profissionalização. Desenvolvimento de pessoas. Planejamento de carreira.
Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas - Administração
Introdução
O futebol foi o primeiro esporte a buscar a profissionalização, seja dos jogadores, do setor administrativo e dos treinadores, chegando às décadas de 1980-1990 como esporte profissional. Conquistou status diferenciado no final do século XX e se transformou em um fenômeno de importância socioeconômica, politicocultural e mercadológica. O Vasco da Gama foi o primeiro clube no Rio de Janeiro a seguir o profissionalismo, fazendo os outros clubes a seguir o mesmo padrão (GAMA, 1990; PEREIRA, 2000).
Esta modalidade desportiva é um campo de estudo muito vasto, com várias formas de relações humanas e éticas. Todos os dias, veem-se crianças jogando bola na escola, adolescentes improvisando uma partida de futebol na areia da praia, estudantes disputando uma partida no campeonato universitário, homens discutindo a atuação do árbitro numa conversa de bar, a mãe matriculando o filho numa escolinha de futebol, um casal de namorados comprando ingressos no estádio.
Deslumbrados com o brilhantismo do mundo futebolístico de bilhões de reais no auge da carreira, muitos jogadores não se prepararam para gerir a vida no período pós-carreira. Em tempos em tempos, é destaque midiático jogadores, que no auge da carreira adquiriram automóveis esportivos importados e mansões, quando se deparam com o declínio da fama acabam por enfrentar problemas financeiros.
Unindo as ideias de Pacheco et al. (2005) e Prahalad e Hamel (2005), sem o autodesenvolvimento e a incapacidade de prever e participar das oportunidades do futuro, não só empresas e nações como atletas profissionais empobrecem, resultante de um plano de carreira estratégico.
Frente a este cenário deturpado do atleta de futebol que a intenção, neste artigo, é suscitar a qualidade de usufruir de um plano de carreira direcionado aos atletas profissionais de futebol, assegurando uma aposentadoria permanente.
Metodologia
O método de abordagem dedutivo, procedimento estruturalista e funcionalista, com caráter qualitativo promoveram o desenvolvimento da pesquisa descritiva e bibliográfica. O levantamento teórico perpetuou entre fevereiro e junho de 2011. Buscou-se por literaturas tanto nacionais como internacionais para melhor suprir a carência de informações. Para isso, definiram-se como descritores: história do futebol, processo seletivo, processo de profissionalização, atleta de futebol, satisfação do atleta, qualidade de vida no trabalho, administração de cargos e salários, planejamento estratégico, plano de carreira, desenvolvimento de pessoas, treinamento, desenvolvimento de competências
Resultados
O homem está interligado ao esporte desde os primatas. Quando fugiam de animais poderosos, lutavam por áreas e regiões na disputa pelo domínio no início das coletividades. Conforme Gaspar (2007), depois da alimentação, a mais antiga forma de atividade humana é a que, atualmente, se conhece por esporte. Para Rouyer (1977), o esporte, um dos mais fortes potencializados do corpo do ser humano, na antiguidade era uma profissional restrita por um grupo de homens, apenas de cobiçada por muitos.
O futebol é o esporte mais popular do mundo. Possui papel fundamental na sociedade capitalista. Movimenta milhões de dólares por ano. Cada vez mais, esse esporte internacional conquista novos adeptos, aumentando a atenção da mídia e o interesse de uma infinidade de pessoas no mundo todo (WAHL, 1997). Desde que este esporte se tornou profissional, há mais de cem anos, nas últimas décadas tem crescido contínuo a empatia da profissão em relação às crianças e, consequentemente, solidificando efetivamente o interesse pela carreira de atleta de futebol.
Falar do futebol no Brasil é percorrer inúmeras literaturas quase sempre com a mesma história, desde a introdução com Charles William Miller no ano de 1888 até á década de 1990. A partir da década de 1970, ocorreram diversas mudanças na estrutura do futebol no Brasil e no mundo. Foi partir desta época, que o futebol foi transformado num elemento fundamental da indústria cultural ou de entretenimento (RODRIGUES, 2003).
Por isso, Moraes, Rabelo e Salmel (2004) acreditam que o futebol não é simplesmente um esporte, e sim, uma paixão que nasce com o ser humano, faz parte da cultura brasileira. Indústria cultural é entendida, por Costa et al. (2003), como o conjunto de meios de comunicação como, o cinema, o rádio, a televisão, os jornais e as revistas, que formam um sistema poderoso para gerar lucros e por serem mais acessíveis às massas, exercem um tipo de manipulação e controle social, ou seja, ela não só edifica a mercantilização da cultura, como também é legitimada pela demanda desses produtos, no caso deste estudo, os jogadores de futebol.
A partir disso, o futebol pode ser entendido como forças centrípeta (exógena) e centrífuga – (endógena). Atinge os distintos campos sociais e, ao mesmo tempo, se centraliza, no sentido da
regionalização. Esse alcance faz dele um veículo ideal de mercadoria (RODRIGUES, 2003). Infelizmente, a habilidade para o futebol, no momento, parece acontecer pelo fato de este ter atingido grande importância social e cultural, além das chances de tornar-se bem sucedido financeiramente. Alguns jogadores recebem somas milionárias. Despertando ainda mais a vontade entre os jovens pelo futebol (RODRIGUES, 2003). Poucos são os que planejam a vida profissional para o período de pós-carreira. Um plano de carreira mal elaborado para os jogadores de futebol pode ocasionar prejuízos financeiros ou afetivos seríssimos de efeito imediato ou tardio. O atleta pode vir a se lesionar não só durante a fase de treinamento como na fase de competição em decorrência de programas que tenham sido mal elaborados.
A carreira dos atletas apresenta questões que precisam ser analisadas. O sonho de adquirir status e boas condições financeiras para si e familiares, muitas vezes, tem prioridade. Nem sempre se consegue atingir o objetivo: crescer profissionalmente e se destacar. Contudo, para sustentar toda esta rede de formação e comércio em torno do futebol, encontram-se clubes e formadores - técnicos, treinadores ou professores advindos da escola de ofício (ex-jogadores) e/ou de cursos superiores de Educação Física ou Esportes.
Considerando esta premissa, alguns questionamentos começaram a surgir, como: O que de fato efetiva uma profissão? Quais são as características de um profissional?
Por que os atletas são considerados profissionais e qual a legitimidade de seu serviço para a sociedade? Na atualidade, existe uma grande prioridade na valorização dos jogadores formados diretamente nos clubes grandes brasileiros. Eles percebem que ao aliar a qualidade do jogador com a boa estrutura, os resultados aparecem mais rápidos, e isto é uma vantagem, não só por de destacar no time e conquistar títulos, mas é um ótimo retorno financeiro ao clube.
Pela grandiosidade do futebol, por ser um esporte que esta no coração do ser humano, se faz necessário uma boa formação. É uma forma de se fazer futebol no Brasil com a desigualdade financeira que nós temos em relação aos clubes das Europa. Então, é investir pesado na base e nosso futuro é muito promissor (RIBEIRO, 2010).
Aponta o autor que a intenção dos Olheiros é captar jovens de grande potencial, com o objetivo de atender as necessidades dos clubes do cenário nacional, dando aos jogadores todo suporte; orientando e gerenciando sua carreira, para que cheguem ao profissional bem preparado. Os clubes são responsáveis pela formação do jogador, o que lhes garantia o direito do passe do atleta.
O passe é um contrato de vinculação exclusiva de um atleta profissional a um clube. Mas esta relação no caso do futebol, prende o jogador ao clube mesmo após o fim do contrato, não o permitindo de trabalhar em outra entidade Esportiva (HELAL, 1997 apud RODRIGUES, 2003). Por outro lado, alguns empresários auxiliam na formação dos atletas, mas muitos deles podem ser vilões neste processo. Desta maneira, o jogador de futebol se tornava patrimônio do clube ou do empresário.
A Lei Zico n.8672 de 1993, regulamenta a presença de empresas e as formas de comercialização do futebol profissional, revê a participação dos recursos da loteria esportiva, extingue a Lei do Passe n.6354/1976 - estabelece uma nova norma para o contrato do atleta profissional -, redefini mecanismos de supervisão e assegura autonomia estatuária dos clubes, buscarem mecanismos mais democráticos e transparentes de representação e de administração das federações e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Por isso, existe a Lei Pelé, n.9615/1998, pretendia restaurar o controle do Estado sobre entidades esportivas, e rezava pela fiscalização do esporte e autonomia de organização dos clubes; revoga a Lei do Passe. Esta lei oferece a liberdade dos atletas no futebol, deixando que o jovem atleta que possui 16 anos tenha a possibilidade de assinar contrato com o clube formador por um período de até cinco anos, mas ao completar 18 anos de idade, também tem o direito de rescindir o contrato e ser transferido para uma equipe do exterior. Com a Lei Pelé, o clube formador sai em desvantagem, pois treinou o jogador por um longo período, investiu e quem vai ter o êxito em campo será outro time. O que resta para o clube inicial é apenas uma pequena multa por quebra de contrato.
Discussão
No Brasil, além de ser uma modalidade desportiva praticada socialmente, visando aos mais diferentes objetivos, o futebol também é uma “paixão”, um “estilo de vida” e uma instituição social que cultiva mitos, crenças, transforma seu percurso em uma empresa, que vende muito bem produtos como o “jogador de futebol”, e se constitui grande fonte de renda. Por ter um diferencial extremamente marcante em relação às outras carreiras, o futebol permite uma relação íntima com o público. É no esporte que se cria uma imagem positiva e muito forte, sempre associada aos momentos de descontração, relaxamento e emoção.
Percebe-se que os jovens atletas sempre incorporam um conjunto de regras e formas de relações sociais estabelecidas em cada categoria e clube. Com isso, pode prejudicar o jovem atleta caso ele chegue a passar por um processo,de peneiras e reeducação antes, ou seja, já teve um clube de base. Por conseguinte, o treinador precisa estar preparado para reconhecer talentos na seleção de categorias de base. Um dos enfoques da seleção é a postura e o comportamento do atleta em campo (RIBEIRO, 2008).
Os jogadores querem mostrar as particularidades do talento por meio do dom natural, em que a razão é inexplicável. Como defendido por Rodrigues (2003), o talento é um dom natural, que nasce com o jogador. Complementa Araújo, (1980, p.30) “ou se tem ou não se tem, existe a possibilidade de melhorar, mas jamais ensinar”. Salienta Rodrigues (2003), os jogadores acreditam que o talento já nasce com eles, como se fosse algo lógico. Muitos garotos sonham em ser jogadores de futebol, mas não basta querer é preciso ter o dom. Essa habilidade precisa ser aprofundada, melhorando a parte física. O dom é uma capacidade e a vocação é um talento, uma relação muito estreita.
De acordo com o art. 29 da Lei n.9615/1998, um jogador pode se profissionalizar a partir dos 16 anos. Os jogadores profissionais são atletas que têm contrato com clubes, jogam mediante remuneração, com vínculo ao clube. A duração do contrato pode ser de três meses, no mínimo, e cinco anos, no máximo. E o primeiro contrato, ou menor de 18 anos, não pode exceder a três anos, com renovação preferencial de mais de dois anos.
Todavia, Rodrigues (2003) acredita ser indispensável que as instituições formadoras de profissionais (escolas técnicas, universidades, clubes, oficinas e institutos) procurem acompanhar a evolução do mercado de trabalho, reconhecendo as necessidades do trabalhador, habilitando-o para ampliar as atividades exercidas com eficiência. Mas, um dos conflitos presentes nas organizações dos clubes de futebol traduz a dificuldade de identificar as competências indispensáveis aos propósitos estratégicos requeridos.
Responsabilidades são os resultados que se espera obter nas pessoas que se está procurando motivar. Se estas pessoas não sabem que resultado está se esperando delas, certamente não poderão atingi-los. Segundo Weiss (1991, p. 29), "cada pessoa também deve conhecer suas responsabilidades individuais".
Para Dutra (1996), a gestão de carreiras e o planejamento estratégico podem ser trabalhados a partir das necessidades de cada desenvolvimento de competências, habilidades e comportamentos apropriados, conduzindo o indivíduo a atender as necessidades impostas pelo mercado de trabalho. Gestão de carreira como um processo pelo qual indivíduos desenvolvem, implementam e monitoram metas e estratégias de carreira. Pressupõe que a otimização desses processos, por meio de uma gestão estruturada de carreira, resulta em indivíduos mais produtivos e autorrealizados.
Conclusão
O futebol é um negócio opulento, inúmeras empresas investem milhões de reais nesse esporte, principalmente para pagar os altos salários recebidos pelos jogadores de futebol na atualidade. Por esse motivo, milhares de jovens e suas famílias veem no futebol um meio de ascensão social, deixando de lado os estudos;
A maioria dos jogadores de futebol das categorias de base dos clubes brasileiros não se interessa pelos estudos, muitos deles não concluíram o ensino fundamental. Desta maneira, não terão a oportunidade de se profissionalizar.
A resistência ao planejamento individual é ainda muito grande no Brasil, as pessoas tendem a guiar suas carreiras mais por apelos externos, tais como, remuneração, status, prestígio, etc., do que por preferências pessoais. No entanto, para isso é preciso o autoconhecimento que favorece o melhor caminho para o reconhecimento dos pontos fortes, pois favorece o encontro da forma ideal para o desenvolvimento dos propulsores de carreira.
Os jogadores de futebol profissional podem conduzir seu planejamento de carreira de várias formas. Porém, é importante ressaltar duas preocupações essenciais: formar uma visão realista, clara e apurada de suas qualidades, interesses e inclinações pessoais, e estabelecer objetivos de carreira e preferências profissionais. Conclui-se, mesmo que os jogadores invistam em dedicação, posição e muitos anos de preparação, muitos deles não pensam na vida profissional e pessoal no período de pós-carreira desportiva. Acreditam que a fama vai durar para sempre. Despreparados para deixar a profissão, os jogadores de futebol correm grandes riscos de não se estabeleceram após o declínio da fama.
A dificuldade e a falta de conhecimento ocasionam na má administração, e muitas vezes os atletas enfrentam problemas de ordem psicológica ou financeira gerando prejuízo. Além dos fatores pessoais dos atletas, estão, diretamente, relacionados ao sucesso de se tornarem jogadores profissionais. Os resultados são, geralmente, gratificantes: uma imagem forte e consistente na sociedade. Sabe-se que a carreira é limitada, por isso precisa se preparar para a pós carreira.
Referências
- ARAÚJO, R. B. Os gênios da pelota: um estudo do futebol como profissão. 1980. Dissertação (mestrado) – UFRJ. Rio de Janeiro, 1980.
- BRASIL. Lei n. 6354/1976, dispõe sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol e dá outras providências. Brasília, 1976.
- ______. Lei n. 9615/1998, normas gerais sobre desporto. Brasília:1998.
- COSTA, A.C.S. et al. Indústria cultural. Movendo Idéias. v.8, n.13, p.13-22, jun. 2003.
- DUTRA, J. S. Administração de carreira.São Paulo: Atlas,1996.
- GAMA, W. Características sociais do jogador de futebol profissional na 1ª divisão do estado de São Paulo. 1990. Dissertação (mestrado) – USP. São Paulo, 1990.
- GASPAR, R. A evolução do homem e das mentalidades. Revista Movimento. n.6 , 1997.
- MORAES, L.C.; RABELO, A.S.; SALMEL, J.H. Papel dos pais no desenvolvimento de jovens futebolistas. Psicoll Refl. Crít. v.17, n.2, 2004.
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- PHAHALAD; HAMEL. Competindo pelo futuro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
- RIBEIRO, N. Categorias de base. Publicado em dez. 2008. UniMaster do Futebol. Disponível em: <http://www.unimasterfutebol.com.br/pdf/categoria sdebasenosclubes.pdf >. Acesso em: 10 maio 2011.
- RODRIGUES, F.X.F. A formação do jogador de futebol no Sport club internacional (1997-2002). 2003. Dissertação (mestrado) – UFRGS. Porto Alegre, 2003.
- ROUYER, J. Pesquisas sobre o significado humano do Desporto e dos Tempos Livres e Problemas da História da Educação Física. In: Desporto e Desenvolvimento Humano. Lisboa, Seara Nova, 1977. p. 159-95.
- WAHL, A. Historias del fútebol, del juego al deporte. Barcelona: Ediciones, 1997.
- WEISS, D. Motivação e resultado. São Paulo: Nobel, 1991.
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