domingo, 30 de setembro de 2018

A EVOLUÇÃO DA GESTÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO

A EVOLUÇÃO DA GESTÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO

 FUNDAÇÃO GETUliO VARGAS
Luiz Marcelo Vídero Vieira Santos 

1. Introdução:

 hipóteses de trabalho o objeto de estudo do presente trabalho é a gestão do futebol brasileiro. O tema estudado é o processo de evolução dessa gestão, com destaque para a sua profissionalização. Abordaremos as principais mudanças e transformações ocorridas, enfocando o tema sob diversos pontos de vista, utilizando um conceito amplo de gestão do futebol (discutido mais adiante), buscando traçar um panorama do que ocorreu em termos de profissionalização da gestão dentro e fora dos gramados. 

A crise atual por que passa o futebol brasileiro, tão noticiada pelos meios de comunicação, está colocando todo o sistema numa encruzilhada. As duas CPh instauradas no Congresso - a do Futebol, no Senado e a da CBFI-Nike, na Câmara dos Deputados - mostraram o lado podre do futebol, o que atinge a sua confiabilidade. Mostraram a incapacidade das instituições (clubes, federações, CBF e sindicatos) em se organizar e gerenciar o esporte de maneira transparente e competente. Mostraram ainda a inadequação da legislação e das instâncias jurídicas desportivas para normatizar o futebol.

 Uma das conseqüências no âmbito econômico e gerencial é o atraso da definitiva transformação do 
futebol em um negócio. Dito isso, assumimos o ponto de vista que essa transformação é benéfica para o futebol brasileiro. Não por opção ideológica, mas simplesmente por admitirmos a realidade: há pelo menos duas décadas, com mais ou menos intensidade, o futebol já está sendo tratado como um negócio. Um grande exemplo disso são os contratos que são fechados envolvendo jogadores, clubes, televisão, empresários entre outros, envolvendo bilhões de dólares em todo o mundo. 

No entanto, a gestão desse grande negócio ainda está muito a quem do que se esperaria de uma indústria tão importante. A diferença é notável, se compararmos com outros países, principalmente os da Europa, Estados Unidos e Japão, com outros ramos da indústria do entretenimento (do qual a indústria dos esportes em geral e do futebol, especificamente, tàz parte) e maior ainda se comparada com m outros setores, como o financeiro. Portanto, partimos do princípio que a transformação do futebol em negocio e um movimento Ja existente e irrefreável e, sendo assim, além de estabelecer regras claras para a atuação dos agentes, é necessário, pelo bem do futebol, gerir essas transações da maneira mais profissional passível 

Esse dilema é o mesmo enfrenado por diversas outras atividades em vari Os momentos da história brasileira e discutido por diversos autores: modernização versus tradição. Nas palavras de HELAL (1997): "Por um lado, a modernização - 'comercialização do espetáculo', 'conscientização' dos jogadores, 'racionalização' do esporte - seria responsável pela destruição de elementos tradicionais do universo do futebol, que tilam de 'paixão', 'amor á camisa' e 'futebol-arte'; por outro lado, o tradicionalismo seria responsável pela falta de profissionalismo na administração do futebol, desorganizando as competições e enfraquecendo financeiramente os clubes"'.

Essa questão da modernização estará sempre presente em nossa discussão, como pano de fundo, mas, devido à banalização do termo e da necessidade de definir mais claramente os limites desse estudo, escolhemos a profissionalização da gestão como tema de estudo. Porém, em nenhum momento perdemos de vista, o que ficará claro na discussão, que isso tàz parte de um movimento maior de modernização, não só do futebol, pensado em termos mundiais, mas também da sociedade brasileira como um todo. 

Veremos, pois, como o futebol chegou ao atual estágio de desenvolvimento gerencial e quais as causas para, ainda hoje, não se adotar largamente práticas profissionais e modernas de gestão. As primeiras questões a serem respondidas são: se realmente houve evolução nessa gestão e se essa gestão realmente se profissionalizou. Para isso, deveremos mostrar como se deu essa evolução e por que ela não aconteceu plenamente.

 Nossa hipótese de trabalho é que realmente houve uma evolução, mas que os avanços mais significativos ocorridos no futebol brasileiro só ocorreram por pressão externa ao seu universo: ou imposição do Estado (principalmente governo federal e legislativo) ou pressões do mercado. Em nenhum momento houve uma iniciativa de agentes ligados diretamente ao esporte, que buscasse mudanças, visando melhor organizá-lo. As decisões sempre foram respostas a pressões externas.

Acreditamos· que os eventos a que estamos assistindo atualmente também seguem esta lógica: pressões do mercado e do Estado estão forçando a mudanças na gestão, na estrutura e nas instituições do futebol brasileiro. Os investidores estão interferindo diretamente nas decisões dos clubes, enquanto as CPIs e o Ministério do Esporte estão forçando a revisões e mudanças na legislação 

Assim sendo, nossos objetivos são tres: 

1. Fazer uma análise histórica da profissionalização da gestão do futebol brasileiro. Observar se ela realmente evoluiu e mostrar como se deu essa evolução. 
2. Fazer uma análise do momento atual do futebol brasileiro, sob o ponto de vista da gestão e sob a luz da evolução histórica observada anteriormente. 
3. Apontar algumas tendências atuais.

 Este trabalho será dividido em tres partes: na próxima sessão, apresentamos a justificativa para escolha da gestão do futebol brasileiro como objeto de trabalho. Em seguida, comentaremos a metodologia utilizada. Nas sessões seguintes, apresentamos a discussão do tema em si, procurando comprovar se a hipótese de trabalho está correta ou não.

2. Justificativa

 A escolha do tema se deveu, inicialmente, a uma paixão pessoal do autor, que acredita na máxima do escritor Nelson Rodrigues, que dizia que "sem paixão não se chupa nem um Chicabon"J Mas, apesar de forte, essa não é a principal justificativa. O futebol tem uma importância para o Brasil que atravessa as ciências, das sociais às biológicas. Ela perpassa o cotidiano como parte integrante, e é também parte importante na definição do modo de vida brasileiro. Sua presença é tão intensa que muito se pode entender do país e do povo pela observação das reações perante um jogo de Copa do Mundo. As vitórias e derrotas da seleção estão sempre sendo relacionadas a uma habilidade especial mestiça, o 'jeitinho brasileiro"" , ou o "complexo de vira-lata", como brilhantemente colocou o mesmo Nelson Rodrigues' . 

Além disso, o futebol tem uma importância grande no dia-a-dia da população, na medida em que os campeonatos estaduais e o nacional ocupam boa parte das discussões diárias da população de todas as classes sociais. Anatol Rosenfeld6 (acadêmico alemão que por aqui esteve, nos anos 1920, dando aulas na USP), na tentativa de entender o Brasil, adotou como temas de ensaios o negro, a macumba e o futebol, tres elementos característicos e marcantes da cultura brasileira. 

Na interpretação de Roberto Damatta7 (dentre outros), foi com o futebol que o Brasil teve suas primeiras aulas de democracia. Pela primeira vez, qualquer um podia ganhar, rico ou pobre, torte ou fraco, grande ou pequeno. Do mesmo jeito, a vitória não era perene, nem hereditária, ela durava apenas até a partida seguinte. A derrota perdi� assim a carga dramática. As regras do jogo eram claras como poucas naquela época. Todos a conheciam e sabiam seus direitos e deveres. E sabiam também que qualquer falha seria punida, seja quem cometesse. 

Indagado sobre a influência do futebol na educaçào da juventude em uma entrevista, o jornalista Juca Kfouri definiu e resumiu muito bem a importància do futebol. Vale a citação completa pela emoção contida em seu depoimento: '"O futebol é um maravilhoso meio educativo: ensina a ganhar e a perder, ensina a conviver com a frustração, e só quem não tem a menor sensibilidade é capaz de dizer que a platéia do futebol é uma platéia de passivos. porque ninguém me convence de que não fiz junto com Basiiio aquele gol que libertou o Corinthians de vinte e dois anos sem titulo; ninguém me convence de que não subi com Pelé na cabeçada que deu o primeiro gol contra a Itália, na Copa de 70; e que eu nào estava junto com o Taffarel, na defesa do pênalti, na Copa de 94. É aquela coisa de pensar que, se eu não estivesse lá, não aconteceria, ou só aconteceu porque eu estou aqui, para o bem ou para o mal. Algumas vezes você diz, 'Fui eu que dei azar, sou um pé frio, é a terceira vez que vou ver o meu time e ele perde'. Sempre dou como exemplo do oposto da alienação que as pessoas teimam em ver no futebol, uma frase que adoro, de Bill Shankley, o técnico e mallager escocês do Liverpool: - 'E claro que o futebol não é uma questão de vida ou morte, o futebol é muito mais importante que isso'. Foi num campo de futebol que se abriu, pela primeira vez, na História, uma tàixa pela anistia aos presos políticos brasileiros; foi no Morumbi, com cem mil pessoas, num jogo entre Corinthians e Santos. E por que num campo de futebol com cem mil pessoas') Porque não dava pra polícia chegar lá em cima e prender todo mundo; quando a polícia chegou, a faixa já havia desaparecido. Foi num campo de futebol, no Estádio Nacional -- de Santiago, na primeira partida depois que o Estádio foi liberado, após servir de prisão por dois anos e meio, no Estádio onde morreram patriotas chilenos e brasileiros, que houve um apagão, a primeira manifestação por liberdade, durante a ditadura Pinochet. Quando as pessoas se deram conta, estava tudo apagado, e começou um canto: 'libertad, libertad, libertad .. ' Havia sessenta mil pessoas no jogo entre o Universidad Católica e o Colocolo, e seria impossível colocar sessenta mil pessoas dentro dos camburões. Então, não se pode deixar de entender que o futebol é a coisa que nos faz nos sentirmos crianças, que o futebol é mais ou menos como a praia, que uniformiza todo mundo. Por mais que o estádio tenha suas divisões, a arquibancada do Maracanã é o único lugar, num pais de estratificação tão poderosa como o Brasil, em que ainda se vê um rico abraçar um pobre. Não entender todas essas caracteristicas, e que o futebol imita a vida, como pouquíssimas áreas da atividade humana, é, , . " 8 no nummo, uma pena. 'Cf. KFOURI (2=), p. 61. 7 

 Por que o futebol se tornou tão popular'7 Ainda não há uma explicação satisfatória, mas há muitos indicios. Em primeiro lugar, era (e cada vez mais é) o mais democrático dos esportes, permitindo que "baixinhos", "gordos", "tísicos", "asmátícos", "tortos,,9, entre outros, aparentemente pouco afeitos à prática desportiva, não só participassem das pelejas, como se 10 destacassem . Depois, foi introduzido como a última grande novidade da Europa, o que lhe conferia uma aura especial (pelo menos no Brasil). Em terceiro lugar, uma constataçào: um esporte que se difundiu em todos os continentes e que é, sem sombra de dúvida, o mais popular do mundo, sendo praticado da China ao Uruguai, passando pela África e Europa, quaisquer que sejam os motivos, tem algo de especial, que encanta as pessoas independente da cultura e origem, mais do que qualquer outro. 

Mas, sem dúvida, muito do fuscinio que o futebol causa advém do elemento do acaso, que proporciona uma intensa emoção durante o jogo. A incerteza é a mãe do seu sucesso. Ao contrário da maioria dos esportes, nunca há fuvoritos absolutos. Aqui, a incidência de resultados inesperados é muito maior. Isso cria sempre a esperança no torcedor que seu time pode vencer, por mais criticas que sejam as condições. O jogador também se fortalece e corre até o último minuto atrás da vitória, pois sabe que nào há times imbatíveis. Isso explica, por exemplo, um time em inferioridade numérica reverter o placar de uma partida. Como diz o ditado popular, "a partida só termina, quando acaba". 

O psicólogo Cláudio Wagner!! faz uma interessante análise ergonômica do futebol, utilizando gráficos, comparando o futebol ao ato sexual. Uma partida de futebol possui uma curva que cresce lentamente, em que se cria uma tensão até a explosão do gol (o orgasmo). Essa tensão e os baixos escores permite a valorização do tento (assim como poucos times na história foram capazes de proporcionar goleadas semanais para sua torcida, poucas pessoas podem se gabar do mesmo feito sob os lençóis), o que não acontece com outros esportes, como vólei e basquete, onde os placares são dilatados, vulgarizando o momento maior da 9 Por exemplo, fui asmático durante boa parte de minha infância e adolescência, o que não me impediu de me tornar um �lande meia-esquerda. _ '. . , . . � Exemplos famosos nao faltam: temos hOJe o baixinho Romano, alem de Maradona; o velho ingles Stanley Mathews, que jogou até os 50 anos; o anjo torto Garrincha, o gordo húngaro Puskas; o magrelo Telê Santana, de apelido "Fio de Esperança": o desengonçado Dadá Maravilha, que apesar da pouquíssima habilidade, fez mais de 50] gols, etc. Imagine então na várzea �uantos craques desconhecidos não maravilharam suas platéias? , Cf. WAGNER (1998). ----� · EssiÍ. seria mais uma explicação para o sucesso desse esporte, já que faz uma relação a natureza humana, independente da cultura 1 2

 Quanto á famosa ginga brasileira, de suposta origem mulata, viria da cultura negra. Jgllm11S versões defendem que os negros, por sua cultura ritmica, presente no samba e na por exemplo, acostumados a dançar, fintar, gingar, etc. tenham incorporado essa aD!LUU,aU� ao futebol. Outra explicação é que, no início do século XX, não era dado aos o "direito" de disputar as bolas com os brancos ccm o mesmo "afinco. Por isso, eles obrigados a desenvolver mais a habilidade, para driblar ou tomar a bola sem contato Não há provas, nem conclusões definitivas quanto a isso, mas, de fato, foi a partir da icorpc,ra\;ao do negro ao jogo que começou a surgir o estilo brasileiro de jogar futebol, que ; conhecidos e respeitados por todos. Esse foi o caso dos governos europeus, na época imperialismo, no final do século XIX O processo de colonização dos continentes africano e asiático pelos paises europeus gerou a necessidade de criar organizações que dessem conta dominar povos que estavam a milhares de quilômetros. Aiém disso, nessa época, os governos europeus começaram a oferecer serviços públicos para população, como saneamento e iluminação das ruas. Nesses dois exemplos, também percebe-se a necessidade de profissionais que dessem conta de organizar e administrar esses serviços. A esse corpo de funcionários, deu-se o nome de burocracia, que inicialmente (metade do século XVIII) era um termo negativo. No entanto, a partir de meados do século XIX, começou-se a se utilizar o termo no seu sentido técnico: "conjunto de estudos juridicos e da ciência da administração alemães que versam sobre Bureau>ystem, o novo aparelho administrativo prussiano, organizado monocrática e hierarquicamente, que,' no início do século XIX, substitui os velhos corpos administrativos colegiais. A ênfase destas obras é normativa e se refere especialmente á precisa especificação das funções, á atribuição de • esferas de competência bem delimitadas, aos critérios de assunção e de carreira. Por esta tradição técnico-juridica, o conceito de Burocracia designa uma teoria e uma praxe da administração pública que é considerada a mais eficiente possível (. . . ) A conceituação dada por Max Weber (...) considera que a Burocracia como uma especifica variante moderna das soluções dadas ao problema geral da administração" 37 Weber3 8 enquadra a Burocracia dentro de sua análise sobre os tipos de domínio. Há o legítimo e o não legitimo, Dentre os legítimos, temos o carismático, o tradicional e o legalburocnitico, O carismático se baseia na força da personalidade do lider, que é seguido espontaneamente por seus seguidores ou discípulos. O tradicional é baseado na história, na cultura, na força e na crença que as coisas são imutáveis: eias são assim porque são, "O dominio legal é caracterizado, do ponto de vista da legitimidade, pela existência de normas legais formais e abstratas e, do ponto de vista do aparelho, pela existência de um stqff 3 7 Cf. BOBBJO, op. cit. "Cf. WEBER (1922). C.�stã0 Futehol 0203\ o l0í3i2002 [8 administrativo burocratico. Weber, portanto, define a Burocracia como a estrutura administrativa, de que se serve o tipo mais puro do dOITÚnio legal,,] 9 No B rasil, ainda. na época do Império, os serviços publicos eram realizados por profissionais liberais ou por indicações politicas, todos ligados a Coroa. Posteriormente, com a proclamação da Republica, iniciou-se um processo de profissionalização e especialização da administração publica, visando a melhoria dos serviços publicos. Ha varios trabalhos classicos sobre a formação e configuração política e social brasileira e outros que tratam das estruturas de poder regional e sua relação com o poder central. Podemos citar: "Os donos do poder" de Raymundo Faoro e "Coronelismo, enxada e voto" de Victor Nunes Leal40 Além desses, ha outros autores classicos como Gilberto Freire, Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de /Holanda e Caio Prado Junior, que trabalharam diferentes aspectos da formação política, social e econÔITÚca do Brasil. À burocracia é fruto da sociedade de classes e, por ISSO, acaba por reproduzir as mesmas relações que caracterizam a sociedade da qual faz parte 41 No futebol não foi ditêrente. À CBF, as federações estaduais e os clubes refletem a história da sociedade brasileira. Foram criados pelo governo, ou pela elite, que permitem a participação popular, desde que isso não interfira na esfera decisória. Segundo HELÀL (1997), a estrutura do futebol brasileiro e a forma como ele se organizou refletem o padrão cultural do pais. Para ele, os problemas atuais são fruto de uma contradição interna do sistema: de um lado dirigentes amadores, de outro jogadores profissionais (ética dual); de um lado um arranjo institucional antigo, o ligarca e amador e de outro as forças de mercado, que acabarão forçando a profissionalização da gestão. Neste caso, o clube-empresa e a gestão profissional se opõem à estrutura institucional e ao arranjo de poder existente. Hoje, a maior parte das relações no futebol brasileiro é pessoal, política ou ambas, e as pressões para essa profissionalização também espelham o processo pelo qual passou a administração publica brasileira. Busca-se uma racionalização, a previsibilidade do sistema, para que os investidores possam aplicar seu capital com mais segurança. Ou seja, é a mesma situação encontrada no Brasil dos anos 1930, quando o presidente Getulio Vargas implantou uma série de reformas no setor publico, de modo a organizá-lo e profissionaliza-Io. G�tão Ftnc:bo! 020310 10/3 /2002 19 A burocracia possui um importante papel nos sistemas economlcos modernos. Ela ou influencia o sistema para que este siga um caminho. O futebol brasileiro é um "<', prna que segue uma lógica. A protlssionalização de sua burocracia podera criar uma lógica funcionamento diferente da imposta atualmente (e historicamente) pela elite dominante. gerar 'os mesmos conflitos registrados entre burocratas e políticos no Estado·2 : os hrime:írc)S buscando a rotina, a racionalidade e o controle, baseando seu trabalho em decisões e os segundos, atuando num ambiente de negociação constante, tomam decisões pol1tlca:s, que respondem a interesses também politicos, que nem sempre casam com o parecer :�t:C,IH�'V' Nesse caso, uma diferença clara é que os políticos são eleitos pelo povo, enquanto os do futebol são alçados aos seus postos por meio de acordos, conchavos e reç)re:seIUal'iaV indireta. A burocracia vem mudando seu papel, de executor de atividades correntes, tem pa,ss:ad'o a exercer um papel mais central, na gestão da expansão da organização. No futebol, a fui profissionalizada em sua porção diretamente ligada ao jogo, a comissão que chamamos aqui de burocracia do campo. Porém, ainda não assumiu, com as de praxe, a gestão da empresa. Em outros termos, não participa do processo O exemplo de maior éxito é o de José Carlos Brunoro, ex-técnico de vàlei, que as�;unliu a direção da co-gestão entre Parmalat e Palmeiras, exerceu papel fundamental na JOlmada de decisões sobre os rumos da "empresa", no caso, o time de futeboL Essa mudança papel dos gerentes é o que está acontecendo atualmente no futebol brasileiro, mas não sem .<()lTPr forte oposição. ,RalciclOéili2:ação na gestão do futebol O fato da burocracia assumir o poder é importante, mas é fundamental deixar um para a criatividade, o inusitado. Representante justamente do planejamento e da prevI.sltJlüda,je, o burocrata terá sempre o desafio de não coibir as iniciativas inovadoras. EnnbcJfa este não seja o papel do burocrata, já que originalmente esse papel cabia ao político, O"ISU1lUV a anitlise de \VEBER (1922), no caso do futebol, o gerente / burocrata não podera da obrigação de salvaguardar o espaço da criação, já que o esporte, assim como a arte, é /OClIS natural da criatividade humana 4 3. a questão do embate entre burocratas e políticos. um trabalho importante é o de ABERBACH. PUTNAM e ROCKMAN , fizeram uma pesquisa com burocratas em diversos países ocidentais. Outro trabalho muito discutido é o de �R()Z"ER (1987), sobre a evolução da burocracia e suas implicações Cf. SANTOS (199]), que trata da presença da paixão na gestão em seu estudo sobre o Sport Club Corinthians Paulista. 20 A questão da paixão na gestão do futebol é polemica. Alguns defendem que, embora o lucro do investidor deva ser garantido, a organização voltada para o futebol é fundada na paixão e dela não pode abrir mão. Há uma lógica falsa nessa idéia segundo ela, se o burocrata age em defesa de interesses próprios e ele ama seu time, agindo em seu proveito, estará beneficiando o clube 44 Na verdade, atualmente a burocracia amadora, que hoje administra os clubes brasileiros, já age assim, com as conseqüencias já conhecidas. As decisões não são racionais e nem são baseadas em premissas concretas e no planejamento, o que leva a muitos erros e prejuízos, dentro e fora do campo. Além disso, a atuação em causa própria tem gerado corrupção e evasão de dinheiro dentro dos clubes, como comprovou as CPls. Por outro lado, decisões exclusivamente racionais, visando só o lucro, podem prejudicar o clube. Este foi o caso do desmonte do grande time do Palmeiras, campeão paulista em 1996, antes de alcançar o objetivo maior do clube, que era ser campeão do mundo. No caso, buscou-se apenas o objetivo da empresa financiadora, que era lucrar com a valorização dos jogadores. Mesmo assim, a venda dos jogadores foi feita antes do ápice, o que impediu a empresa de ganhar ainda mais, se aguardasse mais um pouco. A solução para essa dualidade está em não fugir do embate entre técnica e política. Deveria haver uma burocracia profissional administrando os clubes, baseada na técnica e na racionalidade. O contrapoj1to "político", que resguardaria os interesses dos associados e dos torcedores, além da tradição, história e cultura do clube, seria dado por um Conselho eleito pelos sócios, como em uma empresa. Cada um teria um campo de atuação bem definido, mas haveria uma área onde caberia o dissenso, a discussão e o embate entre os dois corpos 45 Gestão no futebol Mas, que gestão é essa que evoluiu? Consideraremos neste trabalho que gestão no futebol significa não só a gestão administrativa e financeira dos clubes, mas também das federações e das atividades ligadas aos clubes, como a organização das ligas. Observando sob outro foco, temos também a gestão da equipe, que é sua organização dentro do campo, a definição da tática a ser utilizada, a determinação das funções de cada jogador e sua participação dentro do conjunto, visando um objetivo único e comum Ainda no àmbito da prática do esporte em si, temos o planejamento da temporada, que deve prever qual o elenco de jogadores necessários, a preparação fisica, e a prevenção do desgaste fisico devido ao 44 Essa idéia foi trabalhada por autores ligados à Nova Economia Política. 21 número excessIvo de jogos, dentre outras atividades, que sào exercidas pelo treinador e sua comissão técnica. Hoje, "o futebol é uma atividade cada vez mais cientifica, tecnológica, planejada e mercadológica, envol vendo toda uma ampla estrutura que precisa cuidar dos aspectos de preparação tlsica e psicológica em detalhes e em profundidade, da construção do time e dos jogadores, do conhecimento de táticas e estratégias de jogo, do estudo dos adversários, da análise de SCOIlIS+ó e estatísticas, da adequada gestão financeira,,·7 Para a boa gestão de tudo isso, é necessário encarar a equipe (e o clube) como uma organização complexa e que exige profissionais especialistas em cáda posição. É cada vez mais utilizado o conceito de /eam building ou construção do time. O jornalista Matinas Suzuki destaca a importância do trabalho psicológico, que implica em "estabelecer um objetivo comum a ser alcançado e criar mecanismos para que todos se envolvam profundamente para atingir o objetivo. A construção do time implica ( . .. ) em desenvolver uma mentalidade vencedora,,4". Ao se concentrar na construção do time em termos táticos, ele destaca três tàses: 1. Organização. A capacidade de reagIr automaticamente a cada nova situação do jogo. 2. Estratégia. Decidir se a equipe atacará seu adversário ou será reativa. 3. Tática. A partir de diversos fatores como o esquema de jogo do adversário, quais as características dos seus jogadores, sua posição na tabela de classificação, se o jogo é dentro ou fora de casa, definir como o time vai enfrentar o adversário. Esse seria o papel da gestão do time dentro de campo. Mas a gestão do time fora do campo tem que, segundo Matinas Suzuki, "estabelecer um objetivo comum a ser alcançado e criar mecanismos para que todos se envolvam profundamente para atingir o objetivo,,49 Implica também desenvolver uma mentalidade vencedora, desenvolver em cada jogador a idéia de superação de limites, baseado na integração da equipe. :5 Essa discussão está presente e bem exemplificada em ABERBACH et ali (1981). 6 Scout é a palavra inglesa utilizada para denominar as estatísticas dos jogos, como por exemplo, a quantidade de chutes a gol, passes errados, assistências, destaques das partidas, quem tocou mais na bola e mais uma infinidade de informações, que são utilizadas pelos técnicos para estudar os adversários, corrigir os erros de sua equipe e planejar a tática a ser ; 7 rnpregada nos jogos. 48 Cf. SUZUKJ (199!3). Folha de Sâo Paulo. 14/10/1999. " Cf. SUZUKJ (1999). Fofha de São Paulo. 26/08/1999. Cf. SUZUKI (1999). Folha de São Paulo. 12i08/1999. Gestão 'Çuteboi 0203 10 10i3i20i)'� 22 A evolução dessa gestão significa que, de atividade de lazer, amadora e secundária, como era no final do século XIX, ela passou, a partir do início do século XX, a ser atividade principal, remunerada e especializada. Assim, o protissional é aquele que se dedica integralmente à sua função, é remunerado por esse trabalho e está em constante evolução no que diz respeito a adoção das técnicas mais modernas existentes, bem como buscando a inovação dessas técnicas o conceito de gestão moderna é tão etéreo quanto a quantidade de interpretações existentes. A modernidade foi banalizada em intermináveis citações, mas a idéia de buscar o novo, não pode ser esquecida. Assim, consideramos que uma gestão moderna é a que busca a constante evolução por meio da inovação. E isso é feito por intermédio da adoção das técnicas e métodos mais novos e inovadores (sem cair na falácia da busca do novo pelo novo). Uma organização moderna seria então a que procura antecipar-se às concorrentes na adoção de inovações metodológicas, cientiticas ou tecnológicas. B runoro e Afif colocam assim o conceito: "Modernidade signitica estar a par de tudo aquilo que passa por um processo de transformação: teorias administrativas, avanços tecnológicos - na informática e na medicina esportiva -, tendências do mercado de jogadores no Brasil e no exterior, etc ,,5 0 No caso do futebol, devido à resistência em adotar inovações, a gestão moderna é, simplesmente, a que utiliza os métodos comuns de gestão, praticados por qualquer organização profissional. Metodologia utilizada Partindo desses conceitos, esse estudo fui elaborado, principalmente, por melO da bibliogratia existente sobre o futebol, que, embora ainda insatisfatória, já permite análises consistentes. Assim, tentaremos captar os diferentes enfoques, de modo a entender o desenvolvimento do futebol brasileiro sob o ponto de vista da protissionalização de sua gestão. Por exemplo, os textos históricos nos ajudarão a conhecer a sucessão dos fatos; as análises sociológicas nos darão uma idéia do impacto que estes fatos causaram na sociedade brasileira; as antropológicas nos darão a dimensão humana do futebol; as biografias nos darão a visão cotidiana e real da história; e os textos de marketing esportivo em geral mostrarão a visão atual do negócio futebol. " Cf. BRUNORO e AFIF (1997), p. 49. Gctão Futebol 0'2031 0 l OiJ /2002 23 Também fizemos uma análise de jornais e revistas, que permitiram captar a importància do assunto no seu momento, o tipo de enfoque dado pela imprensa, e quais os fatos considerados mais importantes no calor do momento. Deram-nos também subsidios para a compreensão do momento atual, cuja análise mais elaborada não está disponível em artigos e livros. Além disso, para enriquecer o trabalho, foram feitas entrevistas com atores importantes e representantes de instituições que, de alguma maneira, tem interesses envolvidos no processo (os chamados slake-holders). Iniciaremos a discussão, por um histórico sintético da evolução da gestão do esporte, concentrando a atenção nos avanços técnicos, metodológicos e de gestão, ocorridos no século XX. Depois passaremos para um breve panorama da evolução do futebol no mundo, fucando principalmente nos últimos trinta anos, com a explosão da FIF A e do uso do marketing, que estabeleceram as bases do futebol corno negócio, que forçou a profissionalização da gestão para administrar os novos e volumosos investimentos. Daí então passaremos para a análise do desenvolvimento da gestão do futebol no Brasil, sob diversos aspectos, como a gestão do jogador, a do clube, a das federações, a da CBF e a do Estado, além da evolução da estrutura fisica, legal e dos campeonatos. Concluiremos com urna análise do momento atual, sob a luz da evolução histórica, a partir da qual poderemos ver o que realmente está mudando, qual a natureza dessa mudança e quais os vetores definidores dessas mudanças. Ge&lão Futebol 0203 I O 10/3/2002 24 4. Evolução da gestão nos esportes A e'volução da gestão no mundo dos esportes se deu . sob diferentes estimulos. Inicialmente, a rápida aceitação de vários esportes diferentes levou à retomada dos Jogos Olímpicos, no final do século XIX, um dos primeiros marcos do esporte moderno. A partir dai, os esportes foram ocupando um espaço importante na cultura do século XX, levando os governos, principalmente os totalitários, a se utiíízarem deles para propaganda política. Posteriormente, a guerra fria gerou uma disputa que ajudou a desenvolver metodologias de treinamento, tecnologias voltadas exclusivamente para o esporte e a gestão das equipes. A percepção desse crescimento e desenvolvimento incessante por parte do marketing, terminou por inseri-lo no mercado de bens e serviços ligados ao ramo do entretenimento. Vejamos como isso se deu. O esporte carrega consigo duas idéias: a diversão e a competição. Na Grécia antiga, as olimpíadas eram uma metáfora ou representação pacifica da guerra e os jogos serviam como treinamento para a batalha. Outros esportes mais modernos, como o basquete, surgiram da criatividade associada à falta de opções de divertimento. Há também outros que, embora tendo certidão de nascimento, estavam presentes em diferentes culturas de vários continentes e periodos. Nesse caso se enquadra o futebol, que, apesar de "criado na Inglaterra" no século XIX, tem irmãos mais velhos e muito semelhantes nas culturas chinesa, italiana e na América pré-colombianasl Apesar de termos uma tradição esportiva milenar, até mesmo com grandes competições, foi no final do século XIX, com as Olimpiadas da Era Moderna, que o esporte ganhou um novo status. No século XX as competições ganharam uma importância distinta dos padrões anteriores, exigindo uma preparação e a utilização de recursos mais sofisticados para a sua organização. Além disso, ficou claro que vitórias esportivas traziam do Mundo de Futebol da Itália, em 1934, e os Jogos Olímpicos de Berlim, eM 1936, em peças de propaganda política e afirmação racial" A União Soviética, desejosa de espraiar sua ideologia socialista pelo mundo ocidental, também deu ao esporte um lugar de destaque em sua estratégia de marketing institucional, tornando-se o maior conquistador de medalhas nas Olimpiadas em sua época, para não falar da Alemanha Oriental e outros países socialistas, também grandes "papa-medalhas". Com toda essa importância, os esportes em geral começaram a se desenvolver muito rapidamente, tanto em termos técnicos, quanto em termos gerenciais. A ciência e a tecnologia passaram a ser utilizadas de forma ostensiva, assim como todo um aparato de apoio começou a ser formado para dar assistência aos atletas. Um exemplo disso fui a utilização das idéias de Tayior5\ um engenheiro preocupado em maximizar a produção e que passou a fazer estudos sobre quais os melhores métodos para executar as funções no trabalho. Ele desenvolveu uma série de métodos e regras, medindo, cronometrando, calculando, racionalizando o trabalho de forma a maximizar sua produtividade. Essa filosofia foi implantada em todo o mundo, nâo só nas empresas, mas em outras instituições como nas forças armadas, nas diversas burocracias e no esporte em geral54 Os países fascistas e comunistas, por exemplo, assumidamente ou não, puseram em prática com maestria essa cultura. Nas Olimpíadas de 1952, todos ficaram assombrados com o grande time da Hungria, que foi campeão com goleadas fantásticas. Em 1954, na Copa do Mundo o fato se repetiu, embora eles tenham perdido na final para a Alemanha. Espantava não só o futebol, mas também o fato dos jogadores húngaros já estarem suados antes do jogo começar. O segredo era que eles faziam aquecimento nos vestiàrios, entrando em campo não só suados, mas também mais preparados para a atividade fisica, o que invariavelmente era aproveitado para garantir uma boa vantagem no placar, enquanto os adversários, atónitos, mal conseguiam acompanhar a bola. Era a maximização da preparação fisica. Na preparação dos atletas, os estudos desenvolviam novas técnicas, novas táticas e até novas substâncias (muitas delas proibidas) para aumentar a furça, a resistência, a velocidade, a concentração e tudo o mais que pudesse melhorar os resultados. Fora do campo 5 2 É verdade que, se a Itália acabou sendo campeã mundial de futebol, a Alemanha foi obrigada a engolir uma derrota dentro de sua casa, quando o negro americano Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro nas principais provas do atletismo, desbancando os atletas "superiores� do Führer. " Cf. TAYLOR (1900). Ge�lão Ftn\!bol 020310 lOi3i::.!002 ------------- ----- - _ e das quadras, plscmas, etc. - cnaram uma comissão técnica que cuidava de todos os detl!lhes, para que o atleta tivesse que se preocupar apenas com a vitória. Além dos clássicos técnico, médico e fisioterapeuta ou massagista, havia também psicólogos, dentistas, engenheiros, gerentes, entre outros profissionais, que, mesmo hoje, não são comuns em todos os esportes e lugares, como no futebol no Brasil. Só para citar alguns exemplos, na Alemanha Oriental os movimentos dos nadadores eram filmados (no que é imitada por todos hoje) e estudados com o auxílio da fisica e da mecânica, de modo a verificar qual a melhor forma de executar o movimento, maximizando o desempenho do esforço do atleta. O vôlei e o basquete passaram a ter treinadores específicos para cada posição ou função dentro da quadra (ataque e defesa, por exemplo), que trabalham especificamente aquilo no qual são especiaiistas. Em diversos esportes, as regras têm sido mudadas por vários motivos: para privilegiar a competição, para acompanhar o aumento da força fisica dos atletas, para se adequar aos avanços tecnológicos e, principalmente, para facilitar transmissões pela televisão. Pensando em termos de marketing, o basquetebol amencano é imbatível. No final dos 1970, a National Basketball Association (NtiA), a liga que equivale ao campeonato nacional profissional, passava por um período crítico, sem público, com a imagem abalada por casos de violência e abuso de drogas pelos atletas. No entanto, a partir dai, criou-se uma estrutura que gerou um dos maiores produtos esportivos do mundo atualmente, que distribui milhões de dólares em salários e movimenta só nos Estados Unidos cinco bilhões de dólares anuais55 , além de outros tantos em todos os continentes em artigos de todos os tipos, consumidos avidamente pelos fàS56 Fica claro, portanto, que o esporte deixou de ser aquela atividade lúdica de outros tempos e passou a ser um fenômeno econômico e cultural, que movimenta milhões de dólares. Se, por um lado, alimenta os sonhos de muitos garotos e adultos, transformando jovens atletas em super-homens, por outro, ele cobra a conta de tudo isso, exigindo mais dedicação, profissionalismo e organização de sua gestã057 " Apesar de seu pioneirismo e contribuição à teoria da administração, Taylor logo teve suas idéias criticadas. Segundo BRAVERMAN (1973), ele contribuiu menos para aumentar a produtividade por meio de métodos científicos, e mais para k�stituir uma relação de trabalho excludente, vertical e autoritária. 'S6 Conforme BRUNORO, 1 007, p. 36. Sobre a história recente da NBA, vide HALBERSTA�.'" (lfOO), que faz uma análise muito boa sobre toda a estrutura e 1�ncionamento do basquete norte-americano, bem como da filosofia de trabalho por trás dos negócios no esporte daquele país. Sobre a mercantiHzação das Olimpíadas, doping e disputa de poder envolvendo os Jogos Olímpicos, vide SIMSON & JENNINGS (1992). Gem.ão futebol 020310 10/3j2üO�; 27 . No Brasil, o uso da ClenCla (descobertas no campo da fisiologia e medicina esportiva) e da tecnologia (novos materiais e equipamentos) para a melhoria dos resultados e de métodos mais modernos de administração na gestão do esporte nem sempre foi um hábito. Na verdade, ainda hoje o esporte em geral carece de apoio e está sempre as voltas com a busca de patrocinio para treinar e competir. Pensando nos esportes mais populares a coisa é um pouco melhor. O vàlei tomou o segundo lugar do basquete na prefenlncia popular no inicio dos anos 1 980, justamente por implementar uma estrutura profissional. Com a criação, . naquela década, dos times da Pirelli (empresa do ramo de produtos automotivos), em São Paulo, e da Atlântica Boa Vista (uma companhia de seguros), no Rio de Janeiro, ocorreram duas coisas importantes� uma, foi a presença da empresa no esporte com um marketing institucional intenso; e a outra foi a possibilidade de proporcionar uma estrutura extremamente profissional e avançada para a época, permitindo que os atletas tivessem as melhores condições de treinamento. O resultado? Ginásios cheios, confrontos sensacionais entre os dois times, a conquista de titulos pela seleção brasileira, incluindo uma medalha olímpica, e a popularização do vàlei. Gô,1ão Futebol 020310 10/3/2002 28 . 5. Evolução da gestão no futebol - -------------------- No futebol, o ritmo das mudanças normalmente foi bem menor que nos outros . esportes: seja no campo da técnica e da tática, seja na questão das regras, seja na adequação do produto ao mercado. Um dos poucos campos em que foi pioneiro foi o da profissionalização dos seus atletas, que ocorreu no inicio do século XX, muito antes que em outros esportes. Vejamos agora algumas das principais mudanças que ocorreram no futebol, principalmente na segunda metade do sécuio XX Com relação às regras do jogo, uma alteração importante foi a de aumentar a pontuação por vitória de dois para três pontos, reduzindo muito o peso do empate (um ponto) na composição dos pontos da equipe. Isso mexeu muito com os esquemas táticos das equipes, ja que a vitória passou a ser mais valorizada. Àté a Copa de 1 994, o empate era valioso demais para ser descartado e por isso as equipes entravam em campo mais preocupadas em não tomar gol do que construir jogadas ofensivas. Outro grande fato (que abalou as estruturas do futebol na Europa e vem influenciando o resto do mundo) foi o Caso Bosman, em 1 990, que veio causar uma mudança radical nas relações de trabalho entre clubes e jogadores na Comunidade Européia. Bosman era jogador do Liége, da Bélgica, e queria jogar no Dunquerc, da França, mas seu time não liberou seu passe, alegando que o time frances não tinha garantias bancárias para pagar a sua transferência. O atleta entrou com uma ação trabalhista na corte européia de justiça, em Luxemburgo, pedindo a liberação do passe, e ganhou a causa em 15 de dezembro de 1995 . O advogado baseou sua defesa no acordo de livre circulação de trabalhadores nos paises da Comunidade Européia. A sentença, inédita até então, criou uma jurisprudência que, na pratica, acabou com a posse do passe do jogador pelos clubes na Europa. Após a polêmica, Bosman foi boicotado pelos times europeus, que não quiseram mais contrata-lo. À despeito disso, os clubes tiveram que se adaptar à nova regra. Mas, o grande fato ocorrido no futebol mundial nas ultimas décadas foi o crescimento da FIF A e transformação da Copa do Mundo no evento mais assistido do raundo. Sob o comando do brasileiro João Havelange, eleito em 1 974, a instituição transformou o O"-"';tão Fut<:bo! 020310 10;3/2002 futebol em um gigantesco negócio do mundo do entretenimento. Isso fez com que passasse a ser encarado, mais do que como um esporte, como uma oportunidade de lucro. Assim, muitas das mudanças ocorreram a reboque do crescimento da FIF A e da inserção do futebol buslIless na industria do entretenimento. Representando o futebol em todo o mundo, ela é hoje maior que a ONU em número de países, com duzentos e seis membros. A Copa do Mundo e o evento mais assistido em todos os continentes, tendo movimentado cerca de US$ I bilhão de dólares na Copa da França. Para se ter uma idéia do crescimento do negócio, a penúltima Copa, nos Estados Unidos, movimentou US$ 250 milhões e espera-se US$ 1 ,2 bilhão para a proximaShankley, o técnico e mallager escocês do Liverpool: - 'E claro que o futebol não é uma questão de vida ou morte, o futebol é muito mais importante que isso'. Foi num campo de futebol que se abriu, pela primeira vez, na História, uma tàixa pela anistia aos presos políticos brasileiros; foi no Morumbi, com cem mil pessoas, num jogo entre Corinthians e Santos. E por que num campo de futebol com cem mil pessoas') Porque não dava pra polícia chegar lá em cima e prender todo mundo; quando a polícia chegou, a faixa já havia desaparecido. Foi num campo de futebol, no Estádio Nacional -- de Santiago, na primeira partida depois que o Estádio foi liberado, após servir de prisão por dois anos e meio, no Estádio onde morreram patriotas chilenos e brasileiros, que houve um apagão, a primeira manifestação por liberdade, durante a ditadura Pinochet. Quando as pessoas se deram conta, estava tudo apagado, e começou um canto: 'libertad, libertad, libertad .. ' Havia sessenta mil pessoas no jogo entre o Universidad Católica e o Colocolo, e seria impossível colocar sessenta mil pessoas dentro dos camburões. Então, não se pode deixar de entender que o futebol é a coisa que nos faz nos sentirmos crianças, que o futebol é mais ou menos como a praia, que uniformiza todo mundo. Por mais que o estádio tenha suas divisões, a arquibancada do Maracanã é o único lugar, num pais de estratificação tão poderosa como o Brasil, em que ainda se vê um rico abraçar um pobre. Não entender todas essas caracteristicas, e que o futebol imita a vida, como pouquíssimas áreas da atividade humana, é, , . " 8 no nummo, uma pena. 'Cf. KFOURI (2=), p. 61. 7 Por que o futebol se tornou tão popular'7 Ainda não há uma explicação satisfatória, mas há muitos indicios. Em primeiro lugar, era (e cada vez mais é) o mais democrático dos esportes, permitindo que "baixinhos", "gordos", "tísicos", "asmátícos", "tortos,,9, entre outros, aparentemente pouco afeitos à prática desportiva, não só participassem das pelejas, como se 10 destacassem . Depois, foi introduzido como a última grande novidade da Europa, o que lhe conferia uma aura especial (pelo menos no Brasil). Em terceiro lugar, uma constataçào: um esporte que se difundiu em todos os continentes e que é, sem sombra de dúvida, o mais popular do mundo, sendo praticado da China ao Uruguai, passando pela África e Europa, quaisquer que sejam os motivos, tem algo de especial, que encanta as pessoas independente da cultura e origem, mais do que qualquer outro. Mas, sem dúvida, muito do fuscinio que o futebol causa advém do elemento do acaso, que proporciona uma intensa emoção durante o jogo. A incerteza é a mãe do seu sucesso. Ao contrário da maioria dos esportes, nunca há fuvoritos absolutos. Aqui, a incidência de resultados inesperados é muito maior. Isso cria sempre a esperança no torcedor que seu time pode vencer, por mais criticas que sejam as condições. O jogador também se fortalece e corre até o último minuto atrás da vitória, pois sabe que nào há times imbatíveis. Isso explica, por exemplo, um time em inferioridade numérica reverter o placar de uma partida. Como diz o ditado popular, "a partida só termina, quando acaba". O psicólogo Cláudio Wagner!! faz uma interessante análise ergonômica do futebol, utilizando gráficos, comparando o futebol ao ato sexual. Uma partida de futebol possui uma curva que cresce lentamente, em que se cria uma tensão até a explosão do gol (o orgasmo). Essa tensão e os baixos escores permite a valorização do tento (assim como poucos times na história foram capazes de proporcionar goleadas semanais para sua torcida, poucas pessoas podem se gabar do mesmo feito sob os lençóis), o que não acontece com outros esportes, como vólei e basquete, onde os placares são dilatados, vulgarizando o momento maior da 9 Por exemplo, fui asmático durante boa parte de minha infância e adolescência, o que não me impediu de me tornar um �lande meia-esquerda. _ '. . , . . � Exemplos famosos nao faltam: temos hOJe o baixinho Romano, alem de Maradona; o velho ingles Stanley Mathews, que jogou até os 50 anos; o anjo torto Garrincha, o gordo húngaro Puskas; o magrelo Telê Santana, de apelido "Fio de Esperança": o desengonçado Dadá Maravilha, que apesar da pouquíssima habilidade, fez mais de 50] gols, etc. Imagine então na várzea �uantos craques desconhecidos não maravilharam suas platéias? , Cf. WAGNER (1998). ----� · EssiÍ. seria mais uma explicação para o sucesso desse esporte, já que faz uma relação a natureza humana, independente da cultura 1 2 Quanto á famosa ginga brasileira, de suposta origem mulata, viria da cultura negra. Jgllm11S versões defendem que os negros, por sua cultura ritmica, presente no samba e na por exemplo, acostumados a dançar, fintar, gingar, etc. tenham incorporado essa aD!LUU,aU� ao futebol. Outra explicação é que, no início do século XX, não era dado aos o "direito" de disputar as bolas com os brancos ccm o mesmo "afinco. Por isso, eles obrigados a desenvolver mais a habilidade, para driblar ou tomar a bola sem contato Não há provas, nem conclusões definitivas quanto a isso, mas, de fato, foi a partir da icorpc,ra\;ao do negro ao jogo que começou a surgir o estilo brasileiro de jogar futebol, que ; conhecidos e respeitados por todos. Esse foi o caso dos governos europeus, na época imperialismo, no final do século XIX O processo de colonização dos continentes africano e asiático pelos paises europeus gerou a necessidade de criar organizações que dessem conta dominar povos que estavam a milhares de quilômetros. Aiém disso, nessa época, os governos europeus começaram a oferecer serviços públicos para população, como saneamento e iluminação das ruas. Nesses dois exemplos, também percebe-se a necessidade de profissionais que dessem conta de organizar e administrar esses serviços. A esse corpo de funcionários, deu-se o nome de burocracia, que inicialmente (metade do século XVIII) era um termo negativo. No entanto, a partir de meados do século XIX, começou-se a se utilizar o termo no seu sentido técnico: "conjunto de estudos juridicos e da ciência da administração alemães que versam sobre Bureau>ystem, o novo aparelho administrativo prussiano, organizado monocrática e hierarquicamente, que,' no início do século XIX, substitui os velhos corpos administrativos colegiais. A ênfase destas obras é normativa e se refere especialmente á precisa especificação das funções, á atribuição de • esferas de competência bem delimitadas, aos critérios de assunção e de carreira. Por esta tradição técnico-juridica, o conceito de Burocracia designa uma teoria e uma praxe da administração pública que é considerada a mais eficiente possível (. . . ) A conceituação dada por Max Weber (...) considera que a Burocracia como uma especifica variante moderna das soluções dadas ao problema geral da administração" 37 Weber3 8 enquadra a Burocracia dentro de sua análise sobre os tipos de domínio. Há o legítimo e o não legitimo, Dentre os legítimos, temos o carismático, o tradicional e o legalburocnitico, O carismático se baseia na força da personalidade do lider, que é seguido espontaneamente por seus seguidores ou discípulos. O tradicional é baseado na história, na cultura, na força e na crença que as coisas são imutáveis: eias são assim porque são, "O dominio legal é caracterizado, do ponto de vista da legitimidade, pela existência de normas legais formais e abstratas e, do ponto de vista do aparelho, pela existência de um stqff 3 7 Cf. BOBBJO, op. cit. "Cf. WEBER (1922). C.�stã0 Futehol 0203\ o l0í3i2002 [8 administrativo burocratico. Weber, portanto, define a Burocracia como a estrutura administrativa, de que se serve o tipo mais puro do dOITÚnio legal,,] 9 No B rasil, ainda. na época do Império, os serviços publicos eram realizados por profissionais liberais ou por indicações politicas, todos ligados a Coroa. Posteriormente, com a proclamação da Republica, iniciou-se um processo de profissionalização e especialização da administração publica, visando a melhoria dos serviços publicos. Ha varios trabalhos classicos sobre a formação e configuração política e social brasileira e outros que tratam das estruturas de poder regional e sua relação com o poder central. Podemos citar: "Os donos do poder" de Raymundo Faoro e "Coronelismo, enxada e voto" de Victor Nunes Leal40 Além desses, ha outros autores classicos como Gilberto Freire, Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de /Holanda e Caio Prado Junior, que trabalharam diferentes aspectos da formação política, social e econÔITÚca do Brasil. À burocracia é fruto da sociedade de classes e, por ISSO, acaba por reproduzir as mesmas relações que caracterizam a sociedade da qual faz parte 41 No futebol não foi ditêrente. À CBF, as federações estaduais e os clubes refletem a história da sociedade brasileira. Foram criados pelo governo, ou pela elite, que permitem a participação popular, desde que isso não interfira na esfera decisória. Segundo HELÀL (1997), a estrutura do futebol brasileiro e a forma como ele se organizou refletem o padrão cultural do pais. Para ele, os problemas atuais são fruto de uma contradição interna do sistema: de um lado dirigentes amadores, de outro jogadores profissionais (ética dual); de um lado um arranjo institucional antigo, o ligarca e amador e de outro as forças de mercado, que acabarão forçando a profissionalização da gestão. Neste caso, o clube-empresa e a gestão profissional se opõem à estrutura institucional e ao arranjo de poder existente. Hoje, a maior parte das relações no futebol brasileiro é pessoal, política ou ambas, e as pressões para essa profissionalização também espelham o processo pelo qual passou a administração publica brasileira. Busca-se uma racionalização, a previsibilidade do sistema, para que os investidores possam aplicar seu capital com mais segurança. Ou seja, é a mesma situação encontrada no Brasil dos anos 1930, quando o presidente Getulio Vargas implantou uma série de reformas no setor publico, de modo a organizá-lo e profissionaliza-Io. G�tão Ftnc:bo! 020310 10/3 /2002 19 A burocracia possui um importante papel nos sistemas economlcos modernos. Ela ou influencia o sistema para que este siga um caminho. O futebol brasileiro é um "<', prna que segue uma lógica. A protlssionalização de sua burocracia podera criar uma lógica funcionamento diferente da imposta atualmente (e historicamente) pela elite dominante. gerar 'os mesmos conflitos registrados entre burocratas e políticos no Estado·2 : os hrime:írc)S buscando a rotina, a racionalidade e o controle, baseando seu trabalho em decisões e os segundos, atuando num ambiente de negociação constante, tomam decisões pol1tlca:s, que respondem a interesses também politicos, que nem sempre casam com o parecer :�t:C,IH�'V' Nesse caso, uma diferença clara é que os políticos são eleitos pelo povo, enquanto os do futebol são alçados aos seus postos por meio de acordos, conchavos e reç)re:seIUal'iaV indireta. A burocracia vem mudando seu papel, de executor de atividades correntes, tem pa,ss:ad'o a exercer um papel mais central, na gestão da expansão da organização. No futebol, a fui profissionalizada em sua porção diretamente ligada ao jogo, a comissão que chamamos aqui de burocracia do campo. Porém, ainda não assumiu, com as de praxe, a gestão da empresa. Em outros termos, não participa do processo O exemplo de maior éxito é o de José Carlos Brunoro, ex-técnico de vàlei, que as�;unliu a direção da co-gestão entre Parmalat e Palmeiras, exerceu papel fundamental na JOlmada de decisões sobre os rumos da "empresa", no caso, o time de futeboL Essa mudança papel dos gerentes é o que está acontecendo atualmente no futebol brasileiro, mas não sem .<()lTPr forte oposição. ,RalciclOéili2:ação na gestão do futebol O fato da burocracia assumir o poder é importante, mas é fundamental deixar um para a criatividade, o inusitado. Representante justamente do planejamento e da prevI.sltJlüda,je, o burocrata terá sempre o desafio de não coibir as iniciativas inovadoras. EnnbcJfa este não seja o papel do burocrata, já que originalmente esse papel cabia ao político, O"ISU1lUV a anitlise de \VEBER (1922), no caso do futebol, o gerente / burocrata não podera da obrigação de salvaguardar o espaço da criação, já que o esporte, assim como a arte, é /OClIS natural da criatividade humana 4 3. a questão do embate entre burocratas e políticos. um trabalho importante é o de ABERBACH. PUTNAM e ROCKMAN , fizeram uma pesquisa com burocratas em diversos países ocidentais. Outro trabalho muito discutido é o de �R()Z"ER (1987), sobre a evolução da burocracia e suas implicações Cf. SANTOS (199]), que trata da presença da paixão na gestão em seu estudo sobre o Sport Club Corinthians Paulista. 20 A questão da paixão na gestão do futebol é polemica. Alguns defendem que, embora o lucro do investidor deva ser garantido, a organização voltada para o futebol é fundada na paixão e dela não pode abrir mão. Há uma lógica falsa nessa idéia segundo ela, se o burocrata age em defesa de interesses próprios e ele ama seu time, agindo em seu proveito, estará beneficiando o clube 44 Na verdade, atualmente a burocracia amadora, que hoje administra os clubes brasileiros, já age assim, com as conseqüencias já conhecidas. As decisões não são racionais e nem são baseadas em premissas concretas e no planejamento, o que leva a muitos erros e prejuízos, dentro e fora do campo. Além disso, a atuação em causa própria tem gerado corrupção e evasão de dinheiro dentro dos clubes, como comprovou as CPls. Por outro lado, decisões exclusivamente racionais, visando só o lucro, podem prejudicar o clube. Este foi o caso do desmonte do grande time do Palmeiras, campeão paulista em 1996, antes de alcançar o objetivo maior do clube, que era ser campeão do mundo. No caso, buscou-se apenas o objetivo da empresa financiadora, que era lucrar com a valorização dos jogadores. Mesmo assim, a venda dos jogadores foi feita antes do ápice, o que impediu a empresa de ganhar ainda mais, se aguardasse mais um pouco. A solução para essa dualidade está em não fugir do embate entre técnica e política. Deveria haver uma burocracia profissional administrando os clubes, baseada na técnica e na racionalidade. O contrapoj1to "político", que resguardaria os interesses dos associados e dos torcedores, além da tradição, história e cultura do clube, seria dado por um Conselho eleito pelos sócios, como em uma empresa. Cada um teria um campo de atuação bem definido, mas haveria uma área onde caberia o dissenso, a discussão e o embate entre os dois corpos 45 Gestão no futebol Mas, que gestão é essa que evoluiu? Consideraremos neste trabalho que gestão no futebol significa não só a gestão administrativa e financeira dos clubes, mas também das federações e das atividades ligadas aos clubes, como a organização das ligas. Observando sob outro foco, temos também a gestão da equipe, que é sua organização dentro do campo, a definição da tática a ser utilizada, a determinação das funções de cada jogador e sua participação dentro do conjunto, visando um objetivo único e comum Ainda no àmbito da prática do esporte em si, temos o planejamento da temporada, que deve prever qual o elenco de jogadores necessários, a preparação fisica, e a prevenção do desgaste fisico devido ao 44 Essa idéia foi trabalhada por autores ligados à Nova Economia Política. 21 número excessIvo de jogos, dentre outras atividades, que sào exercidas pelo treinador e sua comissão técnica. Hoje, "o futebol é uma atividade cada vez mais cientifica, tecnológica, planejada e mercadológica, envol vendo toda uma ampla estrutura que precisa cuidar dos aspectos de preparação tlsica e psicológica em detalhes e em profundidade, da construção do time e dos jogadores, do conhecimento de táticas e estratégias de jogo, do estudo dos adversários, da análise de SCOIlIS+ó e estatísticas, da adequada gestão financeira,,·7 Para a boa gestão de tudo isso, é necessário encarar a equipe (e o clube) como uma organização complexa e que exige profissionais especialistas em cáda posição. É cada vez mais utilizado o conceito de /eam building ou construção do time. O jornalista Matinas Suzuki destaca a importância do trabalho psicológico, que implica em "estabelecer um objetivo comum a ser alcançado e criar mecanismos para que todos se envolvam profundamente para atingir o objetivo. A construção do time implica ( . .. ) em desenvolver uma mentalidade vencedora,,4". Ao se concentrar na construção do time em termos táticos, ele destaca três tàses: 1. Organização. A capacidade de reagIr automaticamente a cada nova situação do jogo. 2. Estratégia. Decidir se a equipe atacará seu adversário ou será reativa. 3. Tática. A partir de diversos fatores como o esquema de jogo do adversário, quais as características dos seus jogadores, sua posição na tabela de classificação, se o jogo é dentro ou fora de casa, definir como o time vai enfrentar o adversário. Esse seria o papel da gestão do time dentro de campo. Mas a gestão do time fora do campo tem que, segundo Matinas Suzuki, "estabelecer um objetivo comum a ser alcançado e criar mecanismos para que todos se envolvam profundamente para atingir o objetivo,,49 Implica também desenvolver uma mentalidade vencedora, desenvolver em cada jogador a idéia de superação de limites, baseado na integração da equipe. :5 Essa discussão está presente e bem exemplificada em ABERBACH et ali (1981). 6 Scout é a palavra inglesa utilizada para denominar as estatísticas dos jogos, como por exemplo, a quantidade de chutes a gol, passes errados, assistências, destaques das partidas, quem tocou mais na bola e mais uma infinidade de informações, que são utilizadas pelos técnicos para estudar os adversários, corrigir os erros de sua equipe e planejar a tática a ser ; 7 rnpregada nos jogos. 48 Cf. SUZUKJ (199!3). Folha de Sâo Paulo. 14/10/1999. " Cf. SUZUKJ (1999). Fofha de São Paulo. 26/08/1999. Cf. SUZUKI (1999). Folha de São Paulo. 12i08/1999. Gestão 'Çuteboi 0203 10 10i3i20i)'� 22 A evolução dessa gestão significa que, de atividade de lazer, amadora e secundária, como era no final do século XIX, ela passou, a partir do início do século XX, a ser atividade principal, remunerada e especializada. Assim, o protissional é aquele que se dedica integralmente à sua função, é remunerado por esse trabalho e está em constante evolução no que diz respeito a adoção das técnicas mais modernas existentes, bem como buscando a inovação dessas técnicas o conceito de gestão moderna é tão etéreo quanto a quantidade de interpretações existentes. A modernidade foi banalizada em intermináveis citações, mas a idéia de buscar o novo, não pode ser esquecida. Assim, consideramos que uma gestão moderna é a que busca a constante evolução por meio da inovação. E isso é feito por intermédio da adoção das técnicas e métodos mais novos e inovadores (sem cair na falácia da busca do novo pelo novo). Uma organização moderna seria então a que procura antecipar-se às concorrentes na adoção de inovações metodológicas, cientiticas ou tecnológicas. B runoro e Afif colocam assim o conceito: "Modernidade signitica estar a par de tudo aquilo que passa por um processo de transformação: teorias administrativas, avanços tecnológicos - na informática e na medicina esportiva -, tendências do mercado de jogadores no Brasil e no exterior, etc ,,5 0 No caso do futebol, devido à resistência em adotar inovações, a gestão moderna é, simplesmente, a que utiliza os métodos comuns de gestão, praticados por qualquer organização profissional. Metodologia utilizada Partindo desses conceitos, esse estudo fui elaborado, principalmente, por melO da bibliogratia existente sobre o futebol, que, embora ainda insatisfatória, já permite análises consistentes. Assim, tentaremos captar os diferentes enfoques, de modo a entender o desenvolvimento do futebol brasileiro sob o ponto de vista da protissionalização de sua gestão. Por exemplo, os textos históricos nos ajudarão a conhecer a sucessão dos fatos; as análises sociológicas nos darão uma idéia do impacto que estes fatos causaram na sociedade brasileira; as antropológicas nos darão a dimensão humana do futebol; as biografias nos darão a visão cotidiana e real da história; e os textos de marketing esportivo em geral mostrarão a visão atual do negócio futebol. " Cf. BRUNORO e AFIF (1997), p. 49. Gctão Futebol 0'2031 0 l OiJ /2002 23 Também fizemos uma análise de jornais e revistas, que permitiram captar a importància do assunto no seu momento, o tipo de enfoque dado pela imprensa, e quais os fatos considerados mais importantes no calor do momento. Deram-nos também subsidios para a compreensão do momento atual, cuja análise mais elaborada não está disponível em artigos e livros. Além disso, para enriquecer o trabalho, foram feitas entrevistas com atores importantes e representantes de instituições que, de alguma maneira, tem interesses envolvidos no processo (os chamados slake-holders). Iniciaremos a discussão, por um histórico sintético da evolução da gestão do esporte, concentrando a atenção nos avanços técnicos, metodológicos e de gestão, ocorridos no século XX. Depois passaremos para um breve panorama da evolução do futebol no mundo, fucando principalmente nos últimos trinta anos, com a explosão da FIF A e do uso do marketing, que estabeleceram as bases do futebol corno negócio, que forçou a profissionalização da gestão para administrar os novos e volumosos investimentos. Daí então passaremos para a análise do desenvolvimento da gestão do futebol no Brasil, sob diversos aspectos, como a gestão do jogador, a do clube, a das federações, a da CBF e a do Estado, além da evolução da estrutura fisica, legal e dos campeonatos. Concluiremos com urna análise do momento atual, sob a luz da evolução histórica, a partir da qual poderemos ver o que realmente está mudando, qual a natureza dessa mudança e quais os vetores definidores dessas mudanças. Ge&lão Futebol 0203 I O 10/3/2002 24 4. Evolução da gestão nos esportes A e'volução da gestão no mundo dos esportes se deu . sob diferentes estimulos. Inicialmente, a rápida aceitação de vários esportes diferentes levou à retomada dos Jogos Olímpicos, no final do século XIX, um dos primeiros marcos do esporte moderno. A partir dai, os esportes foram ocupando um espaço importante na cultura do século XX, levando os governos, principalmente os totalitários, a se utiíízarem deles para propaganda política. Posteriormente, a guerra fria gerou uma disputa que ajudou a desenvolver metodologias de treinamento, tecnologias voltadas exclusivamente para o esporte e a gestão das equipes. A percepção desse crescimento e desenvolvimento incessante por parte do marketing, terminou por inseri-lo no mercado de bens e serviços ligados ao ramo do entretenimento. Vejamos como isso se deu. O esporte carrega consigo duas idéias: a diversão e a competição. Na Grécia antiga, as olimpíadas eram uma metáfora ou representação pacifica da guerra e os jogos serviam como treinamento para a batalha. Outros esportes mais modernos, como o basquete, surgiram da criatividade associada à falta de opções de divertimento. Há também outros que, embora tendo certidão de nascimento, estavam presentes em diferentes culturas de vários continentes e periodos. Nesse caso se enquadra o futebol, que, apesar de "criado na Inglaterra" no século XIX, tem irmãos mais velhos e muito semelhantes nas culturas chinesa, italiana e na América pré-colombianasl Apesar de termos uma tradição esportiva milenar, até mesmo com grandes competições, foi no final do século XIX, com as Olimpiadas da Era Moderna, que o esporte ganhou um novo status. No século XX as competições ganharam uma importância distinta dos padrões anteriores, exigindo uma preparação e a utilização de recursos mais sofisticados para a sua organização. Além disso, ficou claro que vitórias esportivas traziam do Mundo de Futebol da Itália, em 1934, e os Jogos Olímpicos de Berlim, eM 1936, em peças de propaganda política e afirmação racial" A União Soviética, desejosa de espraiar sua ideologia socialista pelo mundo ocidental, também deu ao esporte um lugar de destaque em sua estratégia de marketing institucional, tornando-se o maior conquistador de medalhas nas Olimpiadas em sua época, para não falar da Alemanha Oriental e outros países socialistas, também grandes "papa-medalhas". Com toda essa importância, os esportes em geral começaram a se desenvolver muito rapidamente, tanto em termos técnicos, quanto em termos gerenciais. A ciência e a tecnologia passaram a ser utilizadas de forma ostensiva, assim como todo um aparato de apoio começou a ser formado para dar assistência aos atletas. Um exemplo disso fui a utilização das idéias de Tayior5\ um engenheiro preocupado em maximizar a produção e que passou a fazer estudos sobre quais os melhores métodos para executar as funções no trabalho. Ele desenvolveu uma série de métodos e regras, medindo, cronometrando, calculando, racionalizando o trabalho de forma a maximizar sua produtividade. Essa filosofia foi implantada em todo o mundo, nâo só nas empresas, mas em outras instituições como nas forças armadas, nas diversas burocracias e no esporte em geral54 Os países fascistas e comunistas, por exemplo, assumidamente ou não, puseram em prática com maestria essa cultura. Nas Olimpíadas de 1952, todos ficaram assombrados com o grande time da Hungria, que foi campeão com goleadas fantásticas. Em 1954, na Copa do Mundo o fato se repetiu, embora eles tenham perdido na final para a Alemanha. Espantava não só o futebol, mas também o fato dos jogadores húngaros já estarem suados antes do jogo começar. O segredo era que eles faziam aquecimento nos vestiàrios, entrando em campo não só suados, mas também mais preparados para a atividade fisica, o que invariavelmente era aproveitado para garantir uma boa vantagem no placar, enquanto os adversários, atónitos, mal conseguiam acompanhar a bola. Era a maximização da preparação fisica. Na preparação dos atletas, os estudos desenvolviam novas técnicas, novas táticas e até novas substâncias (muitas delas proibidas) para aumentar a furça, a resistência, a velocidade, a concentração e tudo o mais que pudesse melhorar os resultados. Fora do campo 5 2 É verdade que, se a Itália acabou sendo campeã mundial de futebol, a Alemanha foi obrigada a engolir uma derrota dentro de sua casa, quando o negro americano Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro nas principais provas do atletismo, desbancando os atletas "superiores� do Führer. " Cf. TAYLOR (1900). Ge�lão Ftn\!bol 020310 lOi3i::.!002 ------------- ----- - _ e das quadras, plscmas, etc. - cnaram uma comissão técnica que cuidava de todos os detl!lhes, para que o atleta tivesse que se preocupar apenas com a vitória. Além dos clássicos técnico, médico e fisioterapeuta ou massagista, havia também psicólogos, dentistas, engenheiros, gerentes, entre outros profissionais, que, mesmo hoje, não são comuns em todos os esportes e lugares, como no futebol no Brasil. Só para citar alguns exemplos, na Alemanha Oriental os movimentos dos nadadores eram filmados (no que é imitada por todos hoje) e estudados com o auxílio da fisica e da mecânica, de modo a verificar qual a melhor forma de executar o movimento, maximizando o desempenho do esforço do atleta. O vôlei e o basquete passaram a ter treinadores específicos para cada posição ou função dentro da quadra (ataque e defesa, por exemplo), que trabalham especificamente aquilo no qual são especiaiistas. Em diversos esportes, as regras têm sido mudadas por vários motivos: para privilegiar a competição, para acompanhar o aumento da força fisica dos atletas, para se adequar aos avanços tecnológicos e, principalmente, para facilitar transmissões pela televisão. Pensando em termos de marketing, o basquetebol amencano é imbatível. No final dos 1970, a National Basketball Association (NtiA), a liga que equivale ao campeonato nacional profissional, passava por um período crítico, sem público, com a imagem abalada por casos de violência e abuso de drogas pelos atletas. No entanto, a partir dai, criou-se uma estrutura que gerou um dos maiores produtos esportivos do mundo atualmente, que distribui milhões de dólares em salários e movimenta só nos Estados Unidos cinco bilhões de dólares anuais55 , além de outros tantos em todos os continentes em artigos de todos os tipos, consumidos avidamente pelos fàS56 Fica claro, portanto, que o esporte deixou de ser aquela atividade lúdica de outros tempos e passou a ser um fenômeno econômico e cultural, que movimenta milhões de dólares. Se, por um lado, alimenta os sonhos de muitos garotos e adultos, transformando jovens atletas em super-homens, por outro, ele cobra a conta de tudo isso, exigindo mais dedicação, profissionalismo e organização de sua gestã057 " Apesar de seu pioneirismo e contribuição à teoria da administração, Taylor logo teve suas idéias criticadas. Segundo BRAVERMAN (1973), ele contribuiu menos para aumentar a produtividade por meio de métodos científicos, e mais para k�stituir uma relação de trabalho excludente, vertical e autoritária. 'S6 Conforme BRUNORO, 1 007, p. 36. Sobre a história recente da NBA, vide HALBERSTA�.'" (lfOO), que faz uma análise muito boa sobre toda a estrutura e 1�ncionamento do basquete norte-americano, bem como da filosofia de trabalho por trás dos negócios no esporte daquele país. Sobre a mercantiHzação das Olimpíadas, doping e disputa de poder envolvendo os Jogos Olímpicos, vide SIMSON & JENNINGS (1992). Gem.ão futebol 020310 10/3j2üO�; 27 . No Brasil, o uso da ClenCla (descobertas no campo da fisiologia e medicina esportiva) e da tecnologia (novos materiais e equipamentos) para a melhoria dos resultados e de métodos mais modernos de administração na gestão do esporte nem sempre foi um hábito. Na verdade, ainda hoje o esporte em geral carece de apoio e está sempre as voltas com a busca de patrocinio para treinar e competir. Pensando nos esportes mais populares a coisa é um pouco melhor. O vàlei tomou o segundo lugar do basquete na prefenlncia popular no inicio dos anos 1 980, justamente por implementar uma estrutura profissional. Com a criação, . naquela década, dos times da Pirelli (empresa do ramo de produtos automotivos), em São Paulo, e da Atlântica Boa Vista (uma companhia de seguros), no Rio de Janeiro, ocorreram duas coisas importantes� uma, foi a presença da empresa no esporte com um marketing institucional intenso; e a outra foi a possibilidade de proporcionar uma estrutura extremamente profissional e avançada para a época, permitindo que os atletas tivessem as melhores condições de treinamento. O resultado? Ginásios cheios, confrontos sensacionais entre os dois times, a conquista de titulos pela seleção brasileira, incluindo uma medalha olímpica, e a popularização do vàlei. Gô,1ão Futebol 020310 10/3/2002 28 . 5. Evolução da gestão no futebol - -------------------- No futebol, o ritmo das mudanças normalmente foi bem menor que nos outros . esportes: seja no campo da técnica e da tática, seja na questão das regras, seja na adequação do produto ao mercado. Um dos poucos campos em que foi pioneiro foi o da profissionalização dos seus atletas, que ocorreu no inicio do século XX, muito antes que em outros esportes. Vejamos agora algumas das principais mudanças que ocorreram no futebol, principalmente na segunda metade do sécuio XX Com relação às regras do jogo, uma alteração importante foi a de aumentar a pontuação por vitória de dois para três pontos, reduzindo muito o peso do empate (um ponto) na composição dos pontos da equipe. Isso mexeu muito com os esquemas táticos das equipes, ja que a vitória passou a ser mais valorizada. Àté a Copa de 1 994, o empate era valioso demais para ser descartado e por isso as equipes entravam em campo mais preocupadas em não tomar gol do que construir jogadas ofensivas. Outro grande fato (que abalou as estruturas do futebol na Europa e vem influenciando o resto do mundo) foi o Caso Bosman, em 1 990, que veio causar uma mudança radical nas relações de trabalho entre clubes e jogadores na Comunidade Européia. Bosman era jogador do Liége, da Bélgica, e queria jogar no Dunquerc, da França, mas seu time não liberou seu passe, alegando que o time frances não tinha garantias bancárias para pagar a sua transferência. O atleta entrou com uma ação trabalhista na corte européia de justiça, em Luxemburgo, pedindo a liberação do passe, e ganhou a causa em 15 de dezembro de 1995 . O advogado baseou sua defesa no acordo de livre circulação de trabalhadores nos paises da Comunidade Européia. A sentença, inédita até então, criou uma jurisprudência que, na pratica, acabou com a posse do passe do jogador pelos clubes na Europa. Após a polêmica, Bosman foi boicotado pelos times europeus, que não quiseram mais contrata-lo. À despeito disso, os clubes tiveram que se adaptar à nova regra. Mas, o grande fato ocorrido no futebol mundial nas ultimas décadas foi o crescimento da FIF A e transformação da Copa do Mundo no evento mais assistido do raundo. Sob o comando do brasileiro João Havelange, eleito em 1 974, a instituição transformou o O"-"';tão Fut<:bo! 020310 10;3/2002 futebol em um gigantesco negócio do mundo do entretenimento. Isso fez com que passasse a ser encarado, mais do que como um esporte, como uma oportunidade de lucro. Assim, muitas das mudanças ocorreram a reboque do crescimento da FIF A e da inserção do futebol buslIless na industria do entretenimento. Representando o futebol em todo o mundo, ela é hoje maior que a ONU em número de países, com duzentos e seis membros. A Copa do Mundo e o evento mais assistido em todos os continentes, tendo movimentado cerca de US$ I bilhão de dólares na Copa da França. Para se ter uma idéia do crescimento do negócio, a penúltima Copa, nos Estados Unidos, movimentou US$ 250 milhões e espera-se US$ 1 ,2 bilhão para a próxima. 

O crescimento do futebol como negocio levou os clubes a se organizarem como empresas. "Quando se tàla em time como empresa, não importa tanto em qual modalidade ele se encaixa (patrocínio, parceria, empresa ou sociedade com capital aberto em Bolsas de Valores). O fundamental é que haja uma gestão empresarial moderna, profissionalizada, voltada á inserção do futebol na indústria do entretenimento, na qual é uma das mídias mais importantes e com capacidade de captar tantos recursos quanto os necessários para financiar a longa e caríssima série de atividades de que um time, para ser competitivo no cenário atual, necessita"". Assim, aquele clube amador, administrado por gerentes não remunerados, financiado exclusivamente pelo público nos estádios e pelos seus sócios é cada vez mais 59  

Esse processo de profissionalização da gestão, mesmo na Europa, é relativamente recente, coincidindo com o desenvolvimento da indústría do futebol, a partir dos anos 1 970, o crescimento da FIF A, e transformação da Copa do Mundo em um evento lucrativo. Embora há muito tempo tenham um nível alto de organização, reflexo do fato da Europa possuir um arcabouço legal, institucional e moral mais antigo e consolidado, a gestão dos clubes permaneceu amadora durante muito tempo, se profissionalizando apenas recentemente e ainda estando em desenvolvimento 60 Atualmente, as pressões por mudanças tem gerado novos mtos a cada dia. Nos últimos anos, os times ingleses tem colocado ações na bolsa, alcançando valorizações

 
. Revisão Bibliográfica

 Livros sobre futebol e a�suntos co-relatos aos desse trahalho, selecionados em pesquisas bibliográficas, que, por diversos motivos, não foram aqui utilizados, mas creio serem úteis para outros pesquisadores. ARAÚJO, R. Benzaquen de. Os Gênios da Pelota: um Estudo do Futebol como Projissão. Dissertação de mestrado. Rio dc Janeiro: Muscu Nacional, 1980. BA YTENDIJK, F. J . 1. Psicologia do Futebol. São Paulo: Herder, 1965. BOLlNGER, D. & HOFSTEDE, G. res d�fJerénces culturel/es dans /e management: comment chaque pays gere-t-il ses hommes? Paris: Éditions de I' organisation, 1987. BUMBAL, Olto Pedro. '"ogistica dei Futho/ Actual. Madrid: Esteban Sanz, Espanha, 1 982. BURRELL, Gibson & MORGAN, Gareth. Sociological paradigms and organizational annalysis: elements ofsociology of corporate life. Ashgate Puhlishing Company, 1 979. CMONE, Modesto. Cem anos de futebol. Memória, ano VI, no. 20, jan-set 1994 CASTRO, Marcos de & MÁXIMO, João. Gigantes do Futebol Brasileiro. Rio de Janeiro: L idador, 1965. CORDEIRO, Luiz Carlos. De Edson a Pelé. São Paulo: OBA. cORRÊA, Floriano Peixoto. Grandezas e Misérias do Nosso Futebol, Rio de Janeiro: Hennano Editores, 1 933. COUTINHO, Edilberto Nação Ruhro-Negra, Fundação Nestlé de Cultura, 1990. DaMATTA, Roberto. A Casa e a Rua. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. DaMATTA, Roberto. O Que Faz o Brasil, Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1984. DaMATTA, Roberto. O Universo do Futebol: Esporte e Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 1 982. DOCKERY, Wallene e WILLIFORD, Steve. They said it couldn 't be done. Gennantown, Sports Marketing, 1987. DUNNING, E. & ELIAS, N. Deporte y Ocio en eI Proceso de Civilización. México: Fondo de Cultura Economica, 1992. DUNNING, E. & MURPHY, P. & W ADDINGTON, I. Antropological versus sociological approaches to the study of soccer hooliganism: some criticai notes. In: The Sociological Review, v. 39, No. 3, ago. 1991 FLORENZANO, José Paulo. Afonsinho e Edmundo: a rebeldia no futebol brasileiro. Musa. GALEANO, Eduardo. Futebol ao So! e à Sombra. Porto Alegre: L&PM, 1995. GAMA, Walter. Aspectos socioculturais do jiJtebolista: o caso do estado de São Paulo. Tese de doutorado, ECA-USP, 1 996. GIULIANOTT, Richard. Football, Violence and Social Identity. Londres-Nova York: Routledge, 1994. GRESENBERG, Ana Lídia d'Ávila. Patrocínio Esportivo e a Imagem da Empresa. Dissertação de mestrado, EAESP - FG V, 1992 � I GUEDES, Simone O Povo Brasileiro no Campo de Futebol. Rio de Janeiro: �v1useü Nacional, 1988. GUERREIRO RAMOS, A Administração e Contexto Brasileiro. Riop de Janeiro: FGV, 1 983. HEIZER, Teixeira. O jogo bruto das copas do mundo. Mauad. HERSCHMANN, Micael & LERNER, Ká�ia - Lance de sorte. O futebol e o jogo do bicho na belle époque carioca, Rio de Janeiro: Diadorim, 1993. HOFSTEDE, G. Culture 's Consequences: international dijfereftces in work-related values. Sage, Berkeley Hills, 1980. LEVlNE, Robert - Esporte e sociedade: o caso do futebol brasileiro, in José C.S. Meihy e J.S. Witter (orgs.), Futebol e Cultura: coletânea de estudos, São Paulo: Imprensa Oficia1:Arquivo do Estado, 1982, pp 21-44. LOPES, José Sérgio Leite. A Morte da Alegria do Povo. in Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 20, out. 1992. MACDONALD, Roger K. Futbol Científico. Barcelona: Hispano Europea, 1971. MACK, Roberto. Futebol Empresa: a Nova Dimensão do Futebol Brasileiro, Palestra Edições, RJ, 1980. MAGALH MANHÃEs, ÃES, Mário. Viagem ao país do futebol. São Paulo: OBA Eduardo Dias, Política de esportes no Brasil, Rio de janeiro: Graal, 1 986, MÁRIO FILHO. Copa Rio Branco, 32, Rio de janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1943 MÁRIo FILHO. Histórias do Flamengo. M.\RIO FILHO. Viagem em Tomo de Pclé, Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1963. MARON FILHO, o. & FERREIRA, R. (orgs.) - Fla-F1u ... E as Multidões Despertaram, Ed. Europa, Rio de janeiro, 1987. Mauro Galvão MAZZONI, Tomás (Olimpicus). História do futebol no Brasil (1894-1945), São Paulo: Leia, 1950. MAZZONI, Tomás (Olimpicus). O Brasil na Taça do Mundo - /938, 3 " ed. São Paulo: Edições e Publicações Brasil, 1938. MELLO FILHO, Álvaro. O Desporto na Ordem Juridico-Constitucional Brasileira, Malheiros Editores, SP, 1995. MIRA Y LÓPEZ & SILVA - Futebol e Psicologia, Civilização Brasileira, RJ, 1964. MORGAN, Gareth - Beyond Method (303 B573) NEGREIROS, Plínio José Labriola - Resistência e Rendição: a gênese do Sport Club Corinthians Paulista e o futebol oficial em São Paulo, 1910-1916, Dissertação de mestrado em História, PUC-SP, 1992. SANTOS, Nilton. Minha bola, minha vida. Rio de Janeiro: Gryphus, 1998. NOGlJElRfo., Armando. Bola na Rede. Organização, estudo e notas de Ivan Cavalcanti Proença, José Olympio, RJ, 2a ed., 1974, NOGUEIRA, Armando - Drama e Glória dos Bi-campeões, Ed, Rio de Janeiro, 1962 NOGUEIRA, Paulo - Clubes Esportivos, Cia. Brasil Editora, 1 971 ? NOVAES, Carlos Eduardo. Mengo, um Odisséia no Oriente, Nórdica, RJ, 1 982. PEARSON, G. - Hooliganism: a History ofRespectable Fears, Macmillan, Londres, 1983 PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda, Pelos campos da . nação: um goal-keeper nos primeiros anos do futebol brasileiro, Estudos Históricos, v, 1 0, n. 19, 1997, p, 23-40, PORTO, Ruy, Bola na rede: a batalha do bi. Civilização Brasileira, PROENÇA, Ivan Cavalcanti, Futebol e Palavra, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1981. Puskas RAMALHO, Márcio, Futebol é bola na rede. São Paulo: Relume-Dumará, RAMOS, Ricardo (arg,), A Palavra É, . . Futebol. São Paulo: Scipione, 1990. RAMOS, Roberto. Futebol: Ideologia do Poder. Petrópolis: Vozes, 1984. REED, Michael. Redejining (Re-thinking) Organizational Annalysis. RIBEIRO, Péris. Didi, o Gênio da Folha Seca. Rio e Janeiro: Imago, ROCHA FILHO, Zaldo Antonio Barbosa - A Narração de Futebol no Brasil : um estudo fonoestilístico, Dissertação (mestrado), Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Orientadora : Eleonora Cavalcante Albano, Campinas, SP, 1989. SANT' ANNA, Leopoldo - Supremacia e Decadência do Futebol Paulista, Instituto D' Anna Rosa, São Paulo, 1 925. SANTOS, GIMEN'EZ, REBOUÇAS, SCHMITT & RENNÓ. Esportes no Brasil: situação atual e propostas para desenvolvimento. In BNDES Setorial, RJ, n. 6, p. 1 57-158, set. 1997. SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Cia, das Letras, 1992. SHIRTS, Matthew. Futebol no Brasil ou FootbaU in Brazil? In 1.C.S. Meihy e J.S. Witter, Futebol e Cultura: coletânea de estudos, São Paulo: Imprensa Oficial: Arquivo do Estado, 1982. SHIRTS, Matthew - Literatura futebolística: uma periodização, in 1.C.S. Meihy e 1.S. Witter, Futebol e cultura: coletânea de estudos, São Paulo: Imprensa Oficial: Arquivo do Estado, 1 982 VASCONCELLOS, João Gualberto Moreira.Coronelismo nas organizações: a gênese da gerência autoritária brasileira. Petrópolis: Vozes, 1 996. VINNAI, Gerhard. El Fútbol Como Ideologia. Mexico: Siglo Veintiuno, 1978. VOGEL, Amo. O Momento feliz: reflexões sobre o futebol e o ethos nacional. In Universo do jilfebol: esporte e sociedade brasileira, Rio de Janeiro: Ed. Pinakotheke, 1 982. WAHL, Alfred. {,e foolballeur français.· de 1 " 7mo!puri'·me (l1! salaria! (11)90-1 926) Le Mouvment Social, n. 1 35, abriHunl1986 WITTER, João Sebastião. O que é fUlebol. São Paulo: Brasiliense. [)eloitte & 'lIJUche Annual Review ofFoolba/l Finance. Manchester, Aug. 1 999. Ga::.ela Mercanlil. São Paulo, 14-10- I 999a. p. c-8 (Caderno Empresas e carreiras). Ga::ela A4ercanfil. São Paulo, 12, 13 e 1 4- l l-l999b. (Caderno Leitura de Fim de Semana). Monopolies and Mergers Commission. British Sky Broadcasting Group PLC and Manchester United PLC: a report on the proposed merger. Relatório apresentado ao Parlamento inglês pelo secretário de Indústrü� e Comércio em abril de 1999. FYNN, Alex & GUEST, Lynton. For love and peace: Manchester Uniled and England, lhe business ofwinning? London: Macmillan, 1998. CONN, David. The football business: ji:lir game in the 90 's? Edinburgh: Mainstream Publishing Projects, 1998. HAMIL, Sean & MICHIE, Jonathan. The changingface oflhefaalba!! business. 2000. MORROW, Stephen. The new business of faatball: accaunfability andjinance. 1999. GERRARD, Bil!. Foatball, jans and finance. 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário