sábado, 18 de agosto de 2018

A importância das fibras na Terapia Nutricional Enteral

A importância das fibras na Terapia Nutricional Enteral


Já abordamos aqui no Blog Prodiet a gravidade de quadros de diarreia em pacientes críticos internados e como a Nutrição Enteral pode atuar nesses casos. Na ocasião, entrevistamos a nutricionista clínica Katherinne Barth Wanis Figueiredo, do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt (HRHDS), de Joinville – SC, que explicou que uma das condutas adequadas é o uso de fibras solúveis. Isso porque elas aumentam a absorção de água e, consequentemente, o bolo fecal.

Porém, o quadro oposto – constipação – também é delicado e pouco discutido em relação à diarreia, talvez porque requer menos atenção da equipe multidisciplinar envolvida no tratamento dos pacientes. De acordo com um estudo brasileiro realizado pela instituição Ganep Nutrição Humana e publicada na revista Nutrition in Clinical Practice, em 2012, a constipação foi o distúrbio de motilidade intestinal mais comum nos pacientes com Terapia Nutricional Enteral (TNE) exclusiva. O estudo de observação envolveu 110 adultos hospitalizados, que foram acompanhados diariamente durante 21 dias consecutivos.


O estudo – Os pacientes foram classificados em 3 grupos de acordo com os distúrbios do trânsito intestinal apresentados: grupo D (diarreia), grupo C (constipação) e grupo N (ausência de diarreia e constipação). Além disso, foram classificados de acordo com a presença de fibra na fórmula enteral: grupo com fibras (pacientes que receberam NE com fibra solúvel e insolúvel na dose de 1,5 g/100 mL durante pelo menos 5 dias sequenciais) e o grupo sem fibras (pacientes que receberam NE sem fibra durante 2 dias sequenciais).
Conforme o resultado: os pacientes do grupo com constipação representaram 70% dos estudados. O grupo com diarréia apareceu em 13% do total da amostra e o grupo sem nenhum dos sintomas representou 17%. E a dieta enteral sem fibras foi associada com a constipação e a maioria desses indivíduos estava recebendo ventilação mecânica.


“A constipação é uma desordem que pode, muitas vezes, estar associada à gastroparesia, à ileoparesia e, consequentemente, à insuficiência do fornecimento da NE, influenciando no prognóstico dos pacientes”, observaram os autores do estudo.

 Outros benefícios – Além do funcionamento adequado do trato gastrintestinal, a utilização de dietas com fibras em nutrição enteral pode ter efeitos benéficos na prevenção e tratamento de algumas patologias, como câncer de cólon, diabetes e hiperlipidemia. Assim, os objetivos da suplementação de fibras em NE são: melhorar a tolerância gastrintestinal em NE de curta duração, para diminuir a ocorrência de diarreias; prevenir a constipação em pacientes com NE de uso prolongado e melhorar o controle glicêmico em pacientes com intolerância à glicose.

Ao longo de anos, diversos estudos apontaram melhora significativa no quadro de diarreia em pacientes que receberam Nutrição Enteral com fibras solúveis, além de melhora nos níveis de glicose e colesterol. Já naqueles com uso de NE prolongada, em que a constipação é mais comum de ocorrer que a diarreia, a suplementação com fibras insolúveis demonstrou uma maior produção de acetato, butirato e ácidos graxos de cadeia curta totais (AGCC) em comparação à dieta enteral padrão sem fibras. Estes ácidos graxos, especialmente o butirato, levam a um aumento da capacidade absortiva das células, com consequente regulação das funções intestinais.

Conforme um estudo experimental realizado com 2 grupos, em que o grupo 1 não recebeu fibras e o grupo 2 recebeu uma mistura de fibras, foi observado que o grupo 2 apresentou aumento significativo de ácido graxo de cadeia curta (WEBER, 2010), este resultado também foi verificado em outro estudo, sendo que houve um aumento principalmente do butirato, além de melhorar o funcionamento intestinal (TOPPING, 2001).

A produção de AGCC pode ser estimulada pelo consumo de polidextrose. Sendo considerado um polissacarídeo não digerível (prebiótico), a polidextrose também possui outros efeitos benéficos ao intestino (HENGST. et al., 2009). Dentre eles, estão a promoção do crescimento bacteriano, estimulação do peristaltismo e a redução do trânsito intestinal (CUMMINGS, MACFARLANE, ENGLYST, 2001). Estudo demonstrou que 8 g/ dia de polidextrose reduz o tempo de trânsito intestinal em indivíduos constipados além de melhorar a consistência das fezes (HENGST. et al., 2009). A polidextrose em alta concentração apresentou efeitos significativamente benéficos em relação a composição da microbiota do cólon como o crescimento de vários grupos de bactérias como as bifidobactérias (FORSSTEN et al., 2015). Com relação aos prebióticos, estes são fermentados por bactérias no íleo distal e no cólon, produzindo AGCC que servem como energia para as células do sistema gastrointestinal (ROBERFROID et al., 2010).

Recomendações – Em adultos saudáveis, a recomendação é de 20 a 40g por dia de fibras, de acordo com a DRI (Dietary Reference Intake). Porém, de acordo com o documento Recomendações Nutricionais para Adultos em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral, da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Brasileira de Nutrologia, de 2011, são recomendadas as seguintes condutas no uso de fibras na Nutrição Enteral:

  • Em TNE, as recomendações de fibras, probióticos, pré-bióticos e simbióticos ainda não são claras; As fibras solúveis são benéficas ao paciente hemodinamicamente estável com TNE e fibras insolúveis devem ser evitadas nos pacientes gravemente enfermos e nos pacientes com risco de isquemia intestinal ou dismotilidade grave;
  • Para indivíduos saudáveis, a ingestão adequada de fibras alimentares é de 15 a 30 g/dia;
  • A recomendação de probióticos é de 109 UFC, para promover alterações favoráveis na composição da microbiota intestinal.
  • Não existem recomendações claras em relação à recomendação diária de prebiótico, porém a quantidade de 5 a 10 g pode ser recomendada para manutenção da flora normal, e de 12,5 a 20 g, para recuperação das bifidobactérias.

Referências:
https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/recomendacoes_nutricionais_de_adultos_em_terapia_nutricional_enteral_e_parenteral.pdf

http://www.nutritotal.com.br/mod/newsletter/view.php?id=26630&action=readissue&issue=368

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